Título: Começa o abate de bois no Paraná
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. B12

O Paraná começou ontem ao sacrifício dos animais considerados pelo Ministério da Agricultura contaminados pelo vírus da febre aftosa. Ao todo, deverão ser sacrificados aproximadamente 6,4 mil animais em sete fazendas, espalhadas por todo o Estado. O valor da indenização aos proprietários será fixado após o abate. Na Fazenda Pedra Preta, em Maringá, onde ocorreu o primeiro sacrifício, os 231 animais foram avaliados em R$ 148 mil. Os proprietários concordaram com o sacrifício desde que fosse realizada necropsia de alguns animais cujos exames apontaram alteração sorológica.

O primeiro disparo foi feito às 9h35 e repetido em média a cada dois minutos. Poucas vezes foi necessário repetir o tiro num mesmo animal - o alvo era a fronte -, disseram funcionários da Secretaria de Agricultura que assistiram aos trabalhos. Mas pelo menos um touro de 18 arrobas exigiu três tiros para tombar de vez. Os disparos foram feitos por três atiradores de elite da Polícia Militar, que usaram carabinas calibre 38.

Até as 18 horas, todos os 231 animais da Fazenda Pedra Preta haviam sido sacrificados. Os 144 da fazenda fazenda experimental do Centro de Estudos Superiores de Maringá (Cesumar) seriam sacrificados em seguida. Todo o trabalho nessas duas fazendas, incluindo o enterro dos animais numa vala de 70 metros de comprimento, 4 m de profundidade e 3 m de largura, deveriam ser concluídos ainda ontem.

Os animais eram abatidos, guinchados até a carroceria de um caminhão e colocados na vala por uma retroescavadeira. Então a barriga era aberta para evitar o acúmulo de gases durante a decomposição, procedimento que dará mais segurança à vala, na fazenda do Cesumar por não representar risco de contaminação do lençol freático.

A imprensa não teve acesso ao abate. Só fotógrafos e cinegrafistas foram autorizados a se aproximar das valas, a uma distância cautelosa e por um período de 30 minutos.

A veterinária uruguaia Rossana Allende foi designada pelo Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Pan-Aftosa), que faz o controle da doença na América Latina, para acompanhar o sacrifício, a coleta de material e a necropsia dos animais. Foram coletados material de três animais para análise. O mesmo procedimento será feito com os animais das demais fazendas para permitir, caso os exames não confirmem que eles estavam contaminados, que os proprietários exijam indenização dos governos federal e estadual.

O governo do Paraná não aceita o diagnóstico da doença, pois nenhum exame feito pelos laboratórios do Ministério da Agricultura foi conclusivo. O Ministério da Agricultura decretou os focos baseando-se na legislação internacional que recomenda esse procedimento quando animais procedentes de uma região contaminada apresentarem alterações sorológicas.

O sacrifício dos animais continuará sexta-feira nas fazendas Flor da Primavera, em Bela Vista do Paraíso, e Santa Isabel, em Grandes Rios.

Na primeira serão mortos 84 animais e na segunda, 39. A Flor da Primavera hospedou os 400 animais leiloados em outubro durante da Eurozebu, em Londrina, e que eram procedentes da Fazenda Bonanza, em Eldorado (MS), cidade onde foi detectado o primeiro foco da aftosa no ano passado. Os animais da Bonanza - cerca de mil - não manifestaram os sintomas da doença, mas foram sacrificados mesmo assim. Por serem os últimos sacrificados naquele Estado, abriram a contagem regressiva de 180 dias para que o MS possa voltar a ser considerado área livre da aftosa.

Os animais da Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, a primeira a ser apontada como foco da doença, em 6 de dezembro, serão sacrificados a partir de sábado. Lá os trabalhos deverão exigir mais de um dia devido ao tamanho do rebanho, em torno de 1,8 mil animais, criados em confinamento.