Título: Família pobre depende de programas sociais
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. B13

Os programas sociais do governo têm grande peso na renda das famílias mais pobres, principalmente as chefiadas por mulheres. Foi o que constatou um estudo da Organização Mundial do Trabalho (OIT) sobre o impacto das desigualdades de gênero e raça na composição da renda familiar. O estudo, divulgado ontem, mostra ainda que a discriminação não ocorre apenas no mercado de trabalho, mas também na distribuição da renda no interior das famílias.

Utilizando os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002/2003 do IBGE, a OIT constatou que as famílias chefiadas por mulheres são mais vulneráveis. O estudo aponta, por exemplo, que 23,6% da renda das famílias chefiadas por mulheres vêm de aposentadorias e pensões, mais que o dobro das chefiadas por homens.

Outros 11,6% são de programas governamentais que entregam o produto em espécie, como merenda escolar e distribuição de leite. Eles representam só 6,9% da renda dos chefes de família homens.

A OIT constatou que menos da metade da renda das famílias chefiadas por mulheres é fruto do trabalho dela, ante 68,9% nas chefiadas por homens. As mulheres ainda contam com o Bolsa-Família, recebida pelos filhos, ou aposentadorias e pensões de pais que moram junto. São 15,6% da renda.

A coordenadora do Projeto de Gênero, Raça, Pobreza e Emprego no Brasil da OIT, Solange Sanches, destacou que no período em que a pesquisa foi feita, entre 2002 e 2003, alguns programas públicos ainda não tinham grande magnitude e, por isso, o próximo levantamento pode mostrar um peso maior dessas políticas.

A coordenadora do Observatório do Trabalho, do Ministério do Trabalho, Paula Montagner, disse que a OIT mostra o acerto de algumas políticas de valorização do salário mínimo.

O documento da OIT mostra que a distribuição dos recursos na família também é desigual e pune mais as mulheres e os negros.

Nas famílias chefiadas por homens, 66,1% da renda familiar é obtida pelo chefe de família, enquanto 18,7% são da mulher e outros 12%, dos filhos.

Nas famílias chefiadas por mulheres, 62,7% da renda vem da mulher. A participação dos cônjuges cai para 9,8%, pois mais de 80% dessas mulheres não têm marido. A participação dos filhos assume papel importante, com 19,3%, incluindo benefícios de políticas públicas.

O quadro piora no caso de famílias chefiadas por mulheres negras. Elas contribuem com 57,3% da renda. A participação dos filhos é de 23,1% nas famílias chefiadas por negras e de 17,3% chefiadas por brancas.