Título: Nova usina faz Gerdau avançar no Sudeste
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. B18

A Gerdau, maior grupo siderúrgico de capital nacional, inaugura hoje, na cidade de Araçariguama, a primeira unidade de produção de aço bruto em São Paulo. É a 11.ª usina do grupo no Brasil e a 30.ª no mundo. E não é uma usina qualquer. O investimento, de R$ 500 milhões, redesenha a forma como a Gerdau atenderá ao principal mercado de vergalhões do País, o paulista, que, sozinho, consome 900 mil toneladas de barras de ferro por ano.

A unidade terá capacidade de produção de 900 mil toneladas de aço bruto, com geração de 400 empregos diretos e outros 2 mil indiretos. Posteriormente, será iniciada a produção de 600 mil toneladas de vergalhões, que elevará o número de empregos diretos a 500 e os indiretos a 2,5 mil.

De importador, o Estado passará a ser exportador do produto. Será da usina de Araçariguama a missão de fornecer vergalhão para o Norte do Paraná e para o Centro-Oeste do Brasil, regiões que, somadas, representam um consumo de 1,4 milhão de toneladas por ano.

A Gerdau tem 50% deste mercado e continuará a tê-lo no curto prazo. A diferença é que a empresa acredita que poderá ampliá-lo a partir da melhor competitividade em custos. Acredita também que terá condições melhores para enfrentar os grandes concorrentes, como a Belgo-Mineira (do Grupo Arcelor) e a Barra Mansa (do Grupo Votorantim).

A nova unidade muda completamente a estrutura logística até agora utilizada para atender a estes mercados. A maior parte do abastecimento era feita a partir da Companhia Siderúrgica Guanabara (Cosigua), no Rio. Parte dos vergalhões consumidos pela construção civil de São Paulo também saía do Rio. Uma pequena parte era produzida numa fábrica da Gerdau no bairro paulistano da Água Branca. Esta unidade, que dispõe de um laminador para vergalhões, será aos poucos desativada, e a produção transferida para Araçariguama.

DIMENSÕES

Nesta primeira fase, o complexo siderúrgico instalado às margens do km 52 da Rodovia Castelo Branco, corredor que liga São Paulo a Sorocaba e ao Oeste paulista, produzirá apenas aço bruto. A produção atual, iniciada de forma experimental no dia 12 de novembro, atinge a marca de 500 mil toneladas por ano. A previsão é que a unidade alcance a capacidade total de 900 mil toneladas apenas em 2007. O laminador ainda não entrou em operação. Uma discussão interna ainda ocorre para definir a data de início da produção de vergalhões em Araçariguama. A estimativa é que seja no terceiro trimestre deste ano.

A meta é produzir até 600 mil toneladas de barras de ferro. A usina, que produz aço a partir de sucata - com pouco uso de ferro-gusa, cerca de 10%, pode ter elevada a produção de aço bruto para 1,3 milhão de toneladas e de vergalhão para 1,2 milhão de toneladas. Tudo depende do mercado. É a avaliação interna. Entretanto, isso pode não demorar tanto quanto se possa imaginar.

A Gerdau acredita que a retomada da economia neste ano de eleição e o pacote de estímulo ao setor da construção civil (com a redução da alíquota de IPI para materiais de construção, além da injeção de mais recursos para financiamento no mercado) podem provocar um efeito positivo no setor.

A expectativa é que o mercado da construção civil cresça entre 1% e 2% acima do PIB neste ano. O pacote do governo alcançou a Gerdau. O vergalhão foi um dos itens mais beneficiados com o pacote de "bondades" para a construção civil. A alíquota de IPI de 5% foi reduzida a zero e já há sinais de mercado que mostram recuperação das vendas do setor.

Os dados das vendas de vergalhões em janeiro prenunciavam esta retomada. É importante salientar que os dados de vendas de janeiro não têm nenhuma relação com o pacote do governo anunciado em fevereiro, mas é um indicador de que há recuperação.

Segundo levantamentos, as vendas de vergalhões em janeiro foram 17,9% superiores em volume na comparação com o mesmo mês de 2005. Foi este também o crescimento em volume que a empresa teve em janeiro.

A Gerdau torce para esta reação do mercado interno. Isso garantiria às unidades, como a de Araçariguama, condições para produzir exclusivamente para o mercado interno. A unidade que será inaugurada hoje é o que a Gerdau chama de "mini mill", pequena unidade industrial para atendimento do mercado local. A falta de crescimento do mercado interno fez com que parte destas fábricas redirecionasse a produção para o mercado externo. Com Araçariguama, isso deverá ocorrer indiretamente. Como irá abastecer São Paulo, a Cosigua terá parte da produção liberada para a exportação.