Título: Varig volta a perder mercado
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. B18

A Varig registrou em fevereiro seu pior desempenho em 79 anos de operação no transporte de passageiros. A companhia, que já respondeu por 52,8% da demanda aérea doméstica em janeiro de 1997, viu sua participação minguar para 19,25%. Em relação a igual período do ano passado, o resultado representa um recuo de 21,1%, ou 10,5 pontos porcentuais.

A TAM cresceu 39,1% e consolidou a liderança do mercado, com 44,45%. A Gol, que começou a voar há cinco anos, teve expansão de 55,6% e se isolou no segundo lugar do ranking, com 28,77%, posição que vem mantendo desde abril de 2005. Ambas impulsionaram o desempenho do setor, que teve crescimento de 22% no mês.

Especialista em aviação, o consultor Paulo Sampaio diz que os dados divulgados ontem pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) mostram pela primeira vez que o mercado comportaria a demanda de passageiros caso a Varig deixasse de operar. "Se a Varig parar hoje, o sistema não entra em colapso", diz Sampaio. Segundo ele, se fossem retiradas da oferta doméstica total de 4,5 milhões de assentos por quilômetro, em fevereiro, as 940 mil poltronas da Varig, o aproveitamento da indústria teria sido de 84%, um resultado melhor do que a taxa de ocupação registrada pelo DAC em fevereiro, de 66%.

No mercado internacional, Sampaio diz que a queda de 16,1% da Varig no transporte de passageiros puxou para baixo o desempenho das demais companhias que voam para fora do País para -6,3%. Isso porque o peso da Varig no exterior, que já se aproximou de 90%, ainda é alto. Foi de 71,49% em fevereiro, inferior aos 79,88% do mesmo mês de 2005. A TAM, por sua vez, viu sua fatia crescer de 15,63% para 22,21%. A participação da Gol aumentou de 1,96% para 4,06% neste segmento.

SMILES

A Varig recebeu no fim do mês passado um fôlego financeiro de US$ 30 milhões do fundo americano Matlin Patterson. O dinheiro foi pago por meio de uma operação de antecipação de recebíveis do programa de milhagem Smiles, fechada com o Matlin, o mesmo que comprou a filial de logística e transporte de cargas VarigLog por US$ 48,2 milhões, em janeiro.

"Não teve operação de compra ou venda do Smiles. Bem que eu gostaria", brinca o diretor de marketing da Varig e responsável pelo Smiles, Faustino Pereira. Ele se referiu a rumores de que a operação poderia representar a venda do Smiles ou que o mesmo teria sido dado como garantia da operação.

Para os cerca de 5 milhões de usuários do Smiles, Pereira ressalta que não há qualquer mudança por causa do aporte de recursos. O dinheiro, diz, foi utilizado para melhorar o fluxo de caixa da companhia e para pagar salários que estavam atrasados, embora o 13º salário de 2005 ainda esteja pendente.