Título: Estrago político do mensalão supera caso dos anões
Autor: João Domingos e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Nacional, p. A4

A crise do mensalão ainda não produziu um número de políticos punidos superior ao ocorrido com a CPI dos Anões do Orçamento, instalada pelo Congresso em 1993. Na ocasião, o relator da CPI do Orçamento, deputado Roberto Magalhães (PE), então filiado ao PFL, pediu a cassação de16 deputados , 1 senador e 1 suplente de deputado por envolvimento em irregularidades com verbas orçamentárias. Desses, dez acabaram deixando seus mandatos, cassados ou renunciando. Na CPI dos Correios, com a absolvição, ontem, dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP), as baixas somam um deputado cassado e outros quatro que optaram pela renúncia para escapar ao processo. Mas ainda existem outros 9 processos na fila.

Na CPI do Orçamento foram cassados cinco deputados - Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), José Geraldo Ribeiro (PMDB-MG), Raquel Cândido (PTB-RO), Carlos Benevides (PMDB-CE) e Fábio Raunhetti (PTB-RJ) - e um suplente - Feres Nades (PTB-RJ). Quatro outros deputados renunciaram para fugir da punição - João Alves (PPR-BA), Genebaldo Correia (PMDB-BA), Manoel Moreira (PMDB-SP) e Cid Carvalho (PMDB-MA).

Oito parlamentares foram inocentados em votações feitas no plenário: os então deputados Ricardo Fiúza (PFL-PE), Paulo Portugal (PP-RJ), João de Deus Antunes (PPR-RS), Ézio Ferreira (PFL-AM), Daniel Silva (PPR-MA) e Aníbal Teixeira (PTB-MG) e o senador Ronaldo Aragão (PMDB-RO).

Desta vez, a CPI dos Correios ainda não conseguiu cassar ninguém, mas já resultou em quatro renúncias. As duas cassações ocorridas no ano passado decorreram de ações de partidos. O deputado José Dirceu (PT-SP) perdeu o posto devido a uma ação do PTB. E o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) foi tirado do posto após um pedido do PL. Os quatro que renunciaram foram Valdemar Costa Neto (PL-SP), José Borba (PMDB-PR), Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Paulo Rocha (PT-BA). No seu relatório, o deputado Osmar Serraglio havia proposto a cassação de um total de 11 deputados.

Mesmo que não consiga repetir o número de punições da CPI do Orçamento, a CPI dos Correios produziu um estrago político superior. Enquanto a primeira foi uma crise restrita ao Congresso, a CPI dos Correios provocou também uma crise intensa dentro do governo e na cúpula do PT, envolvendo pessoas diretamente ligadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre as quais ministros e diretores de estatais.

Mais de 40 ocupantes de postos no governo perderam os cargos. Entre eles destacam-se o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e diretores dos Correios e da Casa da Moeda. O escândalo afetou diretamente os presidentes de cinco partidos: José Genoino (PT), Roberto Jefferson (PTB), Eduardo Azeredo (PSDB), Valdemar Costa Neto (PL) e Pedro Corrêa (PP). Os três primeiros perderam o posto. Os outros dois foram mantidos, apesar das acusações de envolvimento nas denúncias.