Título: Oposição desiste de estender CPI dos Correios
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Nacional, p. A8

A oposição desistiu ontem de insistir na prorrogação dos trabalhos da CPI dos Correios. Um dos motivos é a falta de apoio para obter as 171 assinaturas necessárias na Câmara para que a comissão continuasse a investigar. "Seria precipitado iniciar coleta de assinaturas na Casa correndo o risco de sofrer uma derrota", resumiu o sub-relator de fundos de pensão da CPI, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

Além da dificuldade em obter o apoio de deputados para prorrogar os trabalhos, integrantes da cúpula da CPI defenderam o término na data prevista, 10 de abril, a fim de garantir a aprovação de um relatório substancial. Querem evitar, dessa forma, que a comissão termine em pizza, sem a aprovação de um relatório final.

A avaliação geral é de que a proximidade das eleições poderá prejudicar a conclusão da CPI. "Um eventual prolongamento dos trabalhos para fazer disputa política pode pôr a perder um trabalho sério que fizemos ao longo dos últimos oito meses", argumentou o sub-relator de normas de combate à corrupção da CPI, deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS). Uma reunião dos integrantes da cúpula da CPI, hoje, deverá bater o martelo contra a prorrogação.

O relator Osmar Serraglio (PMDB-PR), porém, ainda resiste em encerrar a CPI na data prevista. Ele afirmou ontem que investigações ficarão sem conclusão. É o caso, segundo ele, das apurações sobre a movimentação nas contas do publicitário Duda Mendonça e as denúncias de uso de dinheiro público de Furnas e Itaipu para financiar políticos, além do suposto recebimento de mensalão por 55 dos 81 deputados do PMDB.

Contrário à prorrogação, o presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), repreendeu publicamente Serraglio ontem. "O relator tem de ficar concentrado no relatório. Na vida a gente tem de ter foco", disse. Depois ponderou: "Isso não é uma crítica."

Delcídio observou que um eventual prolongamento das investigações não trará novidades. "Além de cansativa, não acrescentará dados novos. Até porque já temos as informações mais contundentes", afirmou ele, ao admitir que a prorrogação atrapalhará o projeto de se lançar candidato do PT ao governo de Mato Grosso do Sul.

CALENDÁRIO

Pelo calendário da CPI, Serraglio apresentará seu relatório final no dia 21. A idéia é que o texto seja votado na primeira semana de abril.

A 14 dias da entrega do relatório, Serraglio começou a analisar anteontem os dados sigilosos enviados pelo Fincen - agência de inteligência financeira dos Estados Unidos - sobre as contas de familiares e sócios de Duda no exterior. Os documentos estão no Conselho Administrativo de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Amanhã, o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça deve encaminhar à CPI relatório preliminar com a análise da quebra de sigilo bancário da conta Dusseldorf, de Duda. Foi nessa conta que o publicitário disse ter recebido R$ 10,5 milhões como pagamento da campanha do PT em 2002.