Título: Motorista: Palocci visitava 'casa dos amigos de Ribeirão'
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2006, Nacional, p. A8

O motorista Francisco das Chagas Costa disse ontem à CPI dos Bingos que viu o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, duas ou três vezes na casa do Lago Sul onde atuais e ex-assessores se reuniriam para tratar de negócios e seriam recebidas as moças contratadas pela promotora de eventos Jeany Mary Corner. Ele contou que Palocci chegava lá de dia, no Peugeot conduzido pelo então assessor da presidência da Caixa Econômica Federal, Ralph Barquete, mas não sabia do que ele tratava quando ia ao local.

Segundo Francisco, Palocci não participava das festas noturnas organizadas na casa por Vladimir Poleto, seu assessor na prefeitura de Ribeirão Preto, e outros integrantes da chamada República de Ribeirão Preto. "Eles faziam festa e levavam as meninas para a casa. Eu levei (no carro) as meninas, sim, várias vezes, deixava lá. Todo mundo participava das festas."

Com livre acesso ao ponto, Francisco disse que Poleto, o advogado Rogério Buratti, o secretário particular de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva, e o empresário Roberto Carlos Kurzweil se reuniam com freqüência lá. Buratti foi secretário de Palocci na prefeitura e vice-presidente do grupo Leão Leão, investigado por superfaturamento em contratos de varrição e coleta de lixo. Kurzweil é dono do carro que teria transportado de Campinas para São Paulo suposta doação de US$ 3 milhões de Cuba para o PT.

Francisco contou à CPI que, quando eles pediam para ser levados ao Ministério da Fazenda, todos, exceto Ademirson, comentavam que iriam se encontrar com o "chefão". "Eu ouvia falar: tenho uma reunião com o chefão, temos de falar com o chefão tal hora. Podia ser ele (Palocci), eles não falavam ministro Palocci, não, falavam chefão. Quando queriam falar com o chefão, pediam para ir ao Ministério da Fazenda."

O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) lembrou que o tratamento "chefão" aparece nas gravações da Polícia Federal anexadas ao inquérito que apura contratos superfaturados em Ribeirão.

Considerado autêntico pelos senadores, o depoimento de Francisco contradiz o do ministro. Palocci negou ter visitado a casa do Lago Sul e deu a entender que não tinha relacionamento com Poleto, que a alugava.

Para Tião Viana (PT-SP), o depoimento foi simples. "Francisco deu a impressão de que não estava aqui para fazer o mal." Após ligar para o ministério durante o depoimento, Tião informou que Palocci insiste em que nunca esteve na casa. "Não tenho motivos para duvidar."

TELEFONEMAS

O motorista foi convocado pela CPI para falar dos telefonemas trocados em 2003 e 2004 entre várias pessoas que estão sendo investigadas. As ligações foram feitas em dois celulares habilitados em seu nome. Ele disse ter fornecido os documentos a Poleto para que comprasse o aparelho que ficava em seu poder. Só Ademirson ligou mais de 200 vezes para os celulares.

Ao falar da casa, Francisco disse ter ouvido Buratti, Poleto e Barquete acertando reunião com pessoas da multinacional Gtech. "Não sei se no hotel, onde se hospedavam, ou se no (restaurante) Porcão." Ele disse ainda ter conduzido Kurzweil duas vezes do hotel para a residência e uma vez para o Ministério da Fazenda. Depois de depor, o motorista levou assessores da CPI à casa do Lago Sul, para confirmar que conhecia bem o local.