Título: No Haiti, 33 disputam presidência
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2006, Internacional, p. A21

Forças de paz da ONU reforçam a segurança para as eleições de terça-feira, que escolherão sucessor de Aristide

O primeiro desafio são as eleições. Os 7.500 soldados e 1.800 policiais da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) reforçaram a segurança nas ruas de Porto Príncipe e das principais cidades do interior para garantir o acesso às urnas.

Mais de 3 milhões de haitianos, ou 88% dos eleitores inscritos, deverão votar terça-feira para escolher o presidente da república entre 33 candidatos. O segundo turno, se nenhum deles alcançar a maioria absoluta (50% dos votos mais 1), será realizado em 19 de março.

O general brasileiro José Elito Carvalho Siqueira, comandante da Força Militar das Nações Unidas, há 12 dias no posto, prevê que possa haver algum incidente, mas nada que possa comprometer as eleições.

A maior preocupação dos capacetes-azuis, a tropa internacional de 21 países deslocada para o Haiti após a deposição do presidente Jean- Bertrand Aristide, no primeiro semestre de 2004, é Cité Soleil, o bairro-favela mais violento da capital.

Sob controle de gangues e traficantes armados, Cité Soleil tem cerca de 250 mil habitantes e 55 mil eleitores que terão de sair de lá terça-feira para votar. Com medo de ataques e seqüestros, o Conselho Eleitoral Provisório (CEP) decidiu instalar seções de votação apenas nas vizinhanças, o que obrigará os eleitores a caminhar dois quilômetros até a urna mais próxima. Duas semanas atrás, os moradores do bairro fizeram uma passeata para protestar contra essa decisão, mas não adiantou.

Cité Soleil, que fica à beira-mar, entre o aeroporto internacional e o centro de Porto Príncipe, está sob a responsabilidade das tropas da Jordânia, que tem 1.500 homens na capital, o maior contingente da ONU no país. Dos nove militares da Minustah mortos até agora, quatro foram jordanianos - conseqüência das dificuldades no bairro-favela. Numa área limítrofe, Cité Militaire, são os brasileiros do Batalhão Haiti, de 1.050 soldados do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais, que patrulham as ruas.

A preocupação no governo provisório com a violência, 15 dias atrás, era tanta que se chegou a sugerir o deslocamento de um navio de guerra dos Estados Unidos para o Golfo de La Gonaives. Mas os EUA acharam isso desnecessário.

"Não me preocupo tanto com a violência, mas com a possibilidade de haver falhas técnicas na votação e na contagem dos votos", disse o chefe do serviço de comunicação e informação da Minustah, o canadense David Wimhurst.