Título: Caso Irã vai para Conselho da ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2006, Internacional, p. A17

Imediatamente após decisão da AIEA, governo iraniano anunciou retomada total do enriquecimento de urânio

A junta de governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aprovou ontem, em Viena, por ampla maioria, uma resolução determinando o encaminhamento do Irã ao Conselho de Segurança (CS) da ONU, por causa das atividades nucleares suspeitas do país.

Logo em seguida, o Irã anunciou que, em represália, retomará em grande escala o enriquecimento de urânio para produção de combustível nuclear para suas usinas de energia elétrica.

O país também avisou que suspenderá a aplicação de um protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação de Nuclear (TNP) - pelo qual se havia comprometido a permitir inspeções sem aviso prévio a suas instalações nucleares - e não analisará mais uma proposta russa de enriquecer urânio em usinas da Rússia. "Esta resolução é politicamente motivada, já que não tem base legal ou técnica", declarou o subdiretor do Conselho de Segurança Nacional do Irã, Javad Vaeidi. "O rumo da diplomacia foi interrompido por certos países e não está claro como e quando poderia ser retomado depois desta decisão. Não há mais razão para continuar com o plano russo."

A resolução, proposta pela Grã-Bretanha, França e Alemanha, obteve 27 votos a favor, incluindo o do Brasil (ler abaixo) e 3 contra (Cuba, Síria e Venezuela). Houve 5 abstenções: Argélia, Bielo-Rússia, Indonésia, Líbia e África do Sul. O texto exige a suspensão imediata das atividades de enriquecimento de urânio e novas medidas do Irã para "restabelecer a confiança" da AIEA em seus propósitos pacíficos.

Os membros permanentes do CS (Rússia, EUA, Grã-Bretanha, China e França) já decidiram que só examinarão o caso em março, após a reunião regular da AIEA. Não se prevê a imposição de sanções contra o Irã, já que essa medida não tem o apoio da Rússia e China.

Os três países europeus e os EUA temem que o Irã tenha um programa oculto com a finalidade de fabricar armas atômicas. Essa desconfiança surgiu depois que a AIEA descobriu, em 2003, que o país mantinha instalações secretas. Nos últimos anos, a agência intensificou suas inspeções no Irã, mas ainda não apresentou provas de que o país esteja produzindo armas ou em vias de fazê-lo.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, comparou o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, a Adolf Hitler. "Agora nós vemos que houve épocas em que poderíamos ter agido de modo diferente. Por essa razão, a Alemanha tem a obrigação de deixar claro o que é permissível ou não."