Título: Longe de tudo, comércio não vende e cidade não deslancha
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2006, Nacional, p. A14

Quando foram a Guaribas para lançar o Fome Zero, em fevereiro de 2003, os cinco ministros do governo Lula usaram quatro helicópteros para alcançar a cidade. Talvez por isso tenham passado ao largo de um dos principais problemas do município: é quase impossível chegar lá.

A cidade fica, quase literalmente, no fim de uma picada. Só assim pode ser descrito o caminho que leva de Caracol, município mais próximo, a Guaribas, no qual até caminhões atolam na época das chuvas. Além de Guaribas, apenas a serra.

O impacto na economia é pesado: o que chega para ser vendido aqui custa muito caro; e o que é produzido sai quase de graça para quem se dá ao trabalho de buscar. Nos mercadinhos da cidade, o custo da comida consome os benefícios recebidos. Um quilo de feijão custa R$ 4. O de arroz, R$ 2,50. Açúcar, R$ 2. Na capital, Teresina, em qualquer supermercado o feijão custa R$ 2,70; o arroz, R$ 1,29; e o açúcar, R$ 1,30.

SEM FORNECEDOR

"Numa época vieram umas empresas de Minas para fornecer. Saía mais barato, mesmo com os impostos. Mas desistiram por causa da estrada", conta Edicarlos Silveira, 28 anos, dono de um dos mercadinhos.

Até junho, ele era metalúrgico em São Paulo. Solteiro, quando descobriu que a água tinha chegado à cidade, decidiu voltar. Com a chegada dos cartões, consegue viver bem, vendendo só no caderno e recebendo uma vez por mês.

Edicarlos admite que é só isso que mantém o comércio. E que não consegue vender tudo que gostaria. "Tem coisa, como material de construção, que a gente não consegue comprar. O fornecedor não vem."

O caminho inverso também é difícil. Quando a seca não atrapalha e os agricultores obtêm algum excedente na roça, é difícil vendê-lo. "Se tivesse estrada era outra coisa", conta Jairo Dias, 24 anos, dois filhos.

Existe a promessa de que uma estrada federal, vinda da Bahia, passe por aqui. Mas ainda é só uma promessa. Por enquanto, Guaribas continua no meio do nada.