Título: "Não quero nem serei candidato"
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2006, Nacional, p. A10,11

Em conversas com amigos Jobim diz que deixa o Supremo e não vai concorrer a presidente nem a vice

Em conversas privadas, Nelson Jobim tem dito que quando terminar seu mandato de presidente do Supremo , em março, vai trocar o STF por uma carreira na vida privada. Garante que não há hipótese de entrar na campanha presidencial como candidato - seja na posição de titular, seja na de vice. "Minha candidatura não se cogita', disse ele a um interlocutor, na sexta-feira passada. "Não quero, não tenho interesse, não existirá." Tempos atrás, procurado pelo deputado Michel Temer e pelo senador Renan Calheiros, que queriam saber de seu interesse pela disputa, Jobim respondeu: "Não cogito." E mudou de assunto.

Certa vez, um assessor chegou a perguntar se teria interesse em disputar o governo do Rio Grande do Sul, concorrendo à vaga que pode ser aberta com a possível entrada de Germano Rigotto na corrida presidencial. Jobim reagiu como se tivesse ouvido uma pergunta sem sentido.

Como em Brasília todo mundo sabe que política é como nuvem - um dia está de um jeito, depois fica de outro - mesmo entre funcionários do Supremo há quem acredite que ele poderá mudar de idéia no meio do caminho. Os funcionários apostam uma garrafa de uísque em seu destino. Ao menos por enquanto, a maioria dos lances indica que acreditam que ele deixará a Casa para abrir um escritório de advocacia, projeto que chegou a cultivar no início dos anos 90, mas abandonou pouco depois.

Amigo de José Serra e também de Luiz Inácio Lula da Silva, Jobim entra na campanha com cacife para ocupar um emprego ilustre no eventual governo de qualquer um dos dois. Pelo trânsito que possui junto ao PSDB e ao PT, está predestinado a ter um lugar privilegiado na campanha. "Ele vai participar das grandes articulações e conversas," diz um assessor.

A saída do Supremo, marcada para a última semana de março, quando o PMDB já tiver realizado as prévias para escolha de candidato - nas quais está legalmente impedido de concorrer - é uma decisão que Jobim enfrenta com mais facilidade. Chega a desenhar um pequeno gráfico com uma curva de subida e outra de descida para explicar porque não terá motivação para permanecer na instituição quando encerrar seu mandato de presidente. O desenho - uma descida de ladeira - deixa claro que, a partir dali, lhe faltará motivação para seguir no STF, onde entrou em 1997.

Com a linha de sucessão já definida - Ellen Gracie será a primeira a sucedê-lo, e depois será a vez de Gilmar Mendes - ele acredita que o trabalho de reformas que iniciou será seguido pelos dois. Disposto a exercer seus poderes de presidente do Supremo até o fim, Jobim está definindo a pauta dos últimos dias. Ele faz questão de se encontrar em pleno exercício das funções quando o Supremo for deliberar sobre várias questões espinhosas - entre elas se os bancos devem respeitar o código que define os direitos do consumidor.

Quando fala de sua vida profissional nessas conversas entre amigos e assessores, Jobim se descreve como uma pessoa que aprecia desafios. Sua carreira deu saltos surpreendentes. Nos anos 80, era professor de Direito e advogado no interior do Rio Grande do Sul. Na década de 90, tornou-se ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso, que o instalou no Supremo. Lembrando que está há nove anos na instituição, diz que é hora de uma nova mudança.

Conforme um interlocutor, Jobim tem um pacote bem amarrado de argumentos para falar sobre a sucessão. Diz que não dará entrevistas nem fará pronunciamentos sobre uma eventual candidatura enquanto estiver no Supremo - pois se encontra constitucionalmente impedido de exercer qualquer atividade político-partidária, inclusive falar sobre seu destino nesse nível, argumenta.

Referindo-se a suas conversas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diz que mantém encontros formais, entre poderes independentes. Nega que tenha tratado de uma possível aliança do PMDB com o governo. Na quinta-feira, quando Lula apresentou uma lista de possíveis candidatos a vaga aberta pela saída de Carlos Velloso, Jobim deixou claro que não iria fazer comentários sobre nomes em questão, mas que poderia falar sobre critérios para a escolha dos interessados.

O presidente do Supremo tem deixado claro, em conversas com amigos, que acredita que a campanha será polarizada por Lula e Serra, sem abrir chances para outras candidaturas. Entre os adversários do governo, circula a convicção de que Jobim, ao deixar o Supremo, estará livre para tocar a vida - inclusive na campanha presidencial fora do PMDB.

O ministro reage a essa hipótese de forma categórica. Diz que fez sua carreira como político de um partido só e que jamais trocaria de legenda para disputar uma eleição. "No Rio Grande do Sul não se aceita isso", disse a um interlocutor.