Título: Após investigações, Lula definirá publicitario
Autor: Luciana Nunes Leal, Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2006, Nacional, p. A7

A crise do marketing político deixou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dúvida sobre a escolha do publicitário que substituirá Duda Mendonça e comandará a propaganda de sua campanha à reeleição. Em conversas reservadas, Lula tem dito que vai aguardar o desfecho do que chama de "denuncismo" para decidir se João Santana, hoje consultor do Planalto, será ou não o marqueteiro dessa temporada.

Ex-sócio de Duda, o mago da publicidade atingido em cheio pela crise, Santana entrou na confusão quando o Ministério Público descobriu que ele fez transações com doleiros em paraísos fiscais, entre 1999 e 2000, enviando US$ 528,8 mil para as Ilhas Virgens Britânicas - informação divulgada pelo Estado.

Lula não tem com Santana o mesmo relacionamento que mantinha com Duda, de quem ficou amigo. Mas, apesar dos problemas, ainda não descarta a possibilidade de puxar Santana para a campanha. Tudo depende das investigações.

Não fosse a crise, Lula escolheria Duda novamente. "Ele é o melhor", chegou a dizer o presidente. Tudo foi por água abaixo, no entanto, quando o publicitário que trabalhou com o ex-prefeito Paulo Maluf admitiu ter recebido R$ 10,5 milhões do caixa 2 do PT, numa conta secreta no exterior.

CARA SETE

Duda começou a se aproximar de Lula no início de 2001. "Eu disse a ele que queria ser vendido pelas minhas idéias. Não queria ser um objeto", contou o presidente. "Qualquer um poderia ser falsificado, menos eu."

A adaptação de Lula ao marketing de Duda não foi uma coisa simples. No começo, o petista precisava gravar 15 vezes até acertar a expressão exigida. A fisionomia ideal para o programa de TV foi apelidada de "cara sete". Motivo: um dia, depois de seis tentativas infrutíferas de filmagem, Lula relaxou na sétima vez. A partir daí, sempre que precisava de um sorriso, Duda apelava: "Lula, cara sete!"

No figurino light, surgiu ainda o "Lulinha Paz e Amor", que evitava comprar briga com adversários. Ganhou a parada. "Hoje o PT me ama", disse Duda ao Estado, em outubro de 2002. Na quinta-feira, porém, após novo depoimento à Polícia Federal, sua impressão era bem diferente.