Título: Irã encobre programa de armas, acusa França
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Internacional, p. A13

Chanceler francês diz na TV que o governo iraniano mantém atividades nucleares civis como fachada para programa militar clandestino

A França acusou ontem o Irã de manter um programa nuclear para produção de energia elétrica com a finalidade de acobertar um esquema clandestino de produção de armas atômicas.

"Nenhum programa nuclear civil pode explicar a atividade nuclear iraniana. É um programa militar nuclear clandestino", afirmou enfaticamente o ministro de Relações Exteriores francês, Philippe Douste-Blazy.

"A comunidade internacional enviou uma mensagem muito firme ao dizer aos iranianos que retomem a razão e suspendam toda atividade nuclear, o enriquecimento e a conversão de urânio. Mas eles não nos ouvem", acrescentou o chanceler, no canal de TV France 2.

O negociador-chefe do programa nuclear iraniano, Ali Larijani, imediatamente contestou Douste-Blazy e acusou a França de fomentar tensões. "A motivação do ministro francês é ambigua para nós. É do interesse da região que o Ocidente adote uma posição lógica em relação às atividades nucleares do Irã", disse Larijani.

A afirmação de Douste-Blazy foi surpreendente porque, ao contrário dos EUA, os dirigentes europeus têm adotado uma posição mais cautelosa em relação à questão nuclear iraniana. França, Grã-Bretanha e Alemanha mantiveram até o início do ano negociações com o Irã para convencer o país a desistir de enriquecer urânio - etapa do ciclo nuclear necessária para a produção de energia elétrica, mas também para a fabricação de armas atômicas.

Depois que essas conversações fracassaram e o Irã reiniciou as pesquisas para enriquecer urânio, a tróica européia concordou com EUA, Rússia e China em enviar o caso à avaliação do Conselho de Segurança da ONU. "O comentário francês reflete exasperação com o Irã. Todas as portas abertas em termos de negociações estão sendo fechadas pelos iranianos", disse Richard Whitman, analista do instituto britânico Chatham House.

A próxima tentativa de diálogo será segunda-feira em Moscou, quando a Rússia tentará convencer representantes do Irã a aceitar sua proposta de enriquecer o urânio em usinas russas.

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, voltou a elevar o tom em relação ao Irã, que qualificou de "banco central que financia o terrorismo mundial". Ela disse que Teerã colabora com a Síria para desestabilizar o Oriente Médio.