Título: FHC critica Lula e diz que 'dá para crescer'
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Nacional, p. A11

Para ex-presidente, gasto público 'desandou e houve expansão indesejável do gasto previdenciário, que dará distorção a longo prazo'

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu ontem sua receita para o PSDB governar o Brasil: segurar o gasto público, investir pesado em educação e cuidar da infra-estrutura, para garantir investimentos. Fernando Henrique fez críticas ao atual governo. Disse que o gasto público "desandou": "Não vai ser fácil consertar isso." Afirmou também que houve uma expansão indesejável do gasto previdenciário e com pessoal - "e isso dará distorção a longo prazo".

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), afirmou que seu partido deve ter um programa que proponha o crescimento com responsabilidade, "sem fazer o que Lula fez". E arrematou: "O que não podemos fazer, sob pena de desiludir a sociedade, é fazer o jogo do faz-de-conta, dizer que vai fazer e não fazer. Nós temos vergonha na cara, temos compromisso com o que dizemos." Os dois falaram no seminário "Renovar Idéias", em que economistas da seara tucana se reuniram numa primeira rodada para formular uma política econômica para a campanha do partido à Presidência.

Todo o debate foi marcado pelo otimismo em relação ao desempenho futuro da economia e críticas sucessivas à expansão do gasto público. Fernando Henrique fez um inventário de seus dois governos, afirmando que o Brasil saiu dos anos 90 com um avanço expressivo na base produtiva, citando setores como a siderurgia, indústria automobilística, alimentos e calçados. "O País não cresce sem políticas industrial e agrícola", afirmou. "Não sou pessimista, dá para crescer."

CAMPEÃO

Todos os palestrantes da tarde elegeram o Brasil como campeão de juros altos e gastos públicos excessivos. Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, vinculou a expansão do PIB a uma melhora dos gastos públicos e, ao mesmo tempo, a uma redução das taxas de juros. "Parece consenso que é preciso fazer algo com os gastos públicos, tanto na dimensão quanto na composição", afirmou. Para ele, o próximo governo terá de aproveitar o cenário favorável para conter gastos e juros.

Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central, recomendou que o próximo governo baixe os gastos públicos e o déficit da Previdência, melhore as condições de investimento, invista pesadamente em educação e gerencie com habilidade o conjunto câmbio, juros, parte fiscal e poupança. Para ele, o ajuste fiscal promovido pelo atual governo ficou incompleto por causa do aumento contínuo dos gastos públicos.

Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central, indagou com ironia onde está escrito que o Brasil tem obrigação de ser campeão mundial de juros altos, afirmando que outros países com perfil semelhante conseguiram baixar as taxas com mais rapidez. "O Brasil pode ter uma política econômica diferente sem cair em aventuras", afirmou. Eris disse que o País usa um sistema de metas inflacionárias "muito rígido e errado".

Para ele, o governo Lula teve condições excepcionais para crescer, "mas vai acabar com uma média de 3%, igual aos últimos 20 anos". Ele entende que o Brasil precisa aumentar o investimento do Estado, com a economia que pode fazer no pagamento de juros. "Basta ter coragem para flexibilizar a política monetária", disse.

O economista Yoshiaki Nakano, ex-secretário de Fazenda de São Paulo, defendeu a tese de que o futuro governo estabeleça uma meta de déficit nominal zero para as contas públicas como caminho para aumentar a credibilidade. E propôs que o BC deixe de fixar juros de curto prazo, permitindo que o Tesouro Nacional possa estabelecer taxas para a remuneração dos títulos públicos condizentes com o mercado.