Título: Alckmin passa por saia-justa
Autor: Ana Paula Scinocca, Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Nacional, p. A10

Governador enfrenta protesto em inauguração na USP

Num dia decisivo para os tucanos, o governador Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência, foi surpreendido por um protesto de estudantes, ontem de manhã, ao participar da inauguração da segunda fase das obras do campus da Universidade de São Paulo (USP) na zona leste da capital. Um grupo de 20 estudantes universitários cobrava mais recursos para a educação pública no Estado, enquanto entoava palavras de ordem como "Geraldo, ladrão, destrói a educação" e "Geraldo, sacana, devolve a nossa grana".

Um dos estudantes, Heitor Martins Pasquim, de 25 anos, chegou a ser agredido com um golpe no estômago. O agressor, que pertencia à comitiva tucana, foi retirado do local por seus companheiros sem ser identificado. "Esse é um protesto pacífico, não há motivos para agressões", reclamou o estudante.

Alckmin parecia estar irritado com a manifestação e tentou minimizá-la, dizendo que "quando jovem" também fez protestos. "Esta é a universidade que nós queremos. Nós não queremos o silêncio da ditadura", afirmou o governador em seu discurso, que mal se ouvia por causa do estridente barulho dos apitos usados pelos manifestantes. Depois, em entrevista aos jornalistas, disse: "Não fico triste com a crítica."

RECURSOS

O governador aproveitou o protesto para atacar o governo Lula e cobrar mais investimentos na educação em São Paulo. Segundo ele, quando as mobilizações sociais começaram a surgir na zona leste, o PT defendia uma universidade federal para a região. "A luta inicial era por uma universidade federal, mas o governo não cumpriu. Nós cumprimos e aí está a universidade estadual", disse. O discurso não satisfez os manifestantes, que cobravam uma explicação para o veto do governo paulista a um projeto de lei aprovado pela Assembléia Legislativa que aumentava de 9,57% para 10% o repasse do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para as universidades estaduais. Durante toda sua permanência no local, Alckmin foi perseguido pelos manifestantes, que insistiam: "Fala do veto, governador."

Depois, numa sala fechada para evitar a presença dos estudantes, Alckmin argumentou que preferiu vetar o projeto porque ele seria "prejudicial ao Estado". É que, segundo o governador, só haveria duas formas de dar esse aumento: elevando a carga tributária ou usando parte dos recursos hoje alocados para o ensino médio e o fundamental. "Vetei porque é contra o interesse do Estado. É contra o povo", disse.