Título: Cardeais tucanos querem definição já
Autor: Ana Paula Scinocca, Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Nacional, p. A10

Tasso faz autocrítica e reconhece que demora na escolha de candidato 'está atrapalhando'; FHC descarta prévias

Dois dos principais caciques do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Tasso Jereissati (CE), presidente do partido, descartaram ontem a realização de prévias para a escolha do candidato tucano à Presidência. Ao mesmo tempo, o governador Geraldo Alckmin, um dos pré-candidatos, insistia em que vai pedir a realização de prévias. "Não tem prévias", rebateu, com uma ponta de irritação, Tasso, ao ser informado da declaração.

Mais incisivo, Tasso fez até um mea-culpa. "O que está atrapalhando é a indefinição do partido e eu faço uma autocrítica, já que sou seu presidente", afirmou, ao chegar a um seminário promovido por um instituto do PSDB para debater os desafios da política monetária no País.

Indagado se o prefeito José Serra deveria se apresentar como candidato, Tasso declarou: "Isso é mais ou menos evidente. O que temos de ter agora é um bom entendimento entre os dois." Alckmin, no entanto, cobra essa definição. "Até agora, você não tem outro candidato", afirmou, após o seminário. "Aliás, (Serra) nunca se manifestou. Engraçado isso, né?"

Em conversas privadas, o prefeito deixa claro que as últimas pesquisas não o levarão a se precipitar. Continua examinando hipóteses e pesando todos os ângulos da decisão. Considera que a posição confortável nas pesquisas lhe garante prioridade. Ou seja: se decidir entrar na corrida, o PSDB lhe dará a vaga sem muita dificuldade. Já o governador argumenta que a demora na definição atrapalha o projeto tucano. "Acho que não deve passar do começo de março. Não há mais razão para postergar", opinou ontem, em visita à zona leste da capital.

MATURIDADE

"Isso (a demora em definir o candidato) é uma questão momentânea", minimizou FHC, para em seguida admitir que "talvez", neste momento, o não-lançamento da candidatura tucana possa estar beneficiando Lula. As afirmações dos dirigentes do PSDB foram feitas na semana em que pesquisa da CNT/Sensus registrou o fortalecimento da candidatura petista.

"Temos maturidade suficiente, nossos possíveis candidatos e a direção do partido, para chegar a uma convergência", frisou o ex-presidente, descartando as prévias. "É uma ansiedade no partido ter o nome, conhecer o candidato o quanto antes. Espero que logo depois do carnaval possamos ter condições de anunciar", emendou Tasso.

Ele enfatizou que prévias estão fora de cogitação e disse que os tucanos apostam em "um amplo processo de entendimento", com consultas a setores do Congresso e governadores e conversas com os principais líderes e os pré-candidatos. "Não haverá prévias porque não há condição de fazer eleição. O partido é grande e estamos tendo conversas para chegar a um consenso entre os dois mais cotados", disse Tasso. Dado esse processo de consultas, previu, o impasse "deixa de persistir". E reforçou: "Vamos chegar a um acordo."

A posição dos dois dirigentes tucanos, derrubando qualquer expectativa de prévias, desfavorece Alckmin. Ele e os partidários da sua candidatura dão como certa sua vitória em uma consulta ampla ao partido.

CUSTO PT

Ontem Serra não deu brechas para falar de sucessão presidencial, mas no seminário bateu duro no governo petista. Disse que "o custo PT para o Brasil foi muito alto" e é preciso ter "conhecimento e credibilidade" para melhorar a situação. "É possível dar um choque de gestão para melhorar a eficiência da administração pública e colocar o Brasil num círculo virtuoso."

Fernando Henrique demonstrou confiança de que o PSDB tomará a decisão correta na hora de escolher o candidato e deu mais uma estocada no governo Lula, sem citar o nome do presidente, mas na mesma linha de Serra. "O PSDB terá um candidato bom e será capaz de levantar de novo a confiança do País, por causa de um passado de seriedade, pela capacidade técnica e competência gerencial, por nunca ter enganado o povo e por ter uma visão do que é preciso fazer agora", afirmou.

Mais uma vez, o ex-presidente esquivou-se de responder se prefere ver Alckmin ou Serra como candidato. "Imagine se eu nasci ontem", brincou com os jornalistas, ao chegar para o seminário, em um hotel de São Paulo. "Essa coisa de defensor de candidatura não adianta. O defensor verdadeiro de uma candidatura é o sentimento popular."