Título: Antero chama de mentiroso juiz que o acusa por caixa 2
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Nacional, p. A7

Foco era caso Celso Daniel, mas questão regional atropelou sessão

A CPI dos Bingos foi palco ontem de um duelo de acusações entre o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) e o juiz da 1ª Vara Federal de Cuiabá, Julier Sebastião da Silva. O bate-boca cresceu a tal ponto que o presidente da CPI, Efraim Morais (PMDB-PB), depois de repetidos pedidos de moderação, suspendeu a sessão, por sugestão de Tião Viana (PT-AC).

O juiz foi convidado para falar do suposto envolvimento de João Arcanjo Ribeiro, conhecido por Comendador, no assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em janeiro de 2002. Mas ele disse que esse inquérito ainda está em fase inicial. O clima ficou pesado porque o juiz já acusara Antero de usar recursos de caixa 2 em sua campanha, provenientes de pessoas ligadas a Arcanjo.

O senador aproveitou a sessão da CPI para cobrar explicações. "Eu não tenho de conversar com um juiz que mente, que labora um equívoco; ele fala nos autos, fala na TV, e por isso responde a queixa-crime e ação de dano moral que eu movo contra ele", afirmou Antero.

Sebastião Silva disse que determinou abertura de inquérito contra o senador porque o Ministério Público concluiu que a Vic Factoring, de Arcanjo, emitiu 84 cheques para o comitê eleitoral do PSDB em 2002. "Eu analiso os fatos, e o fato é que o PSDB operou com 84 cheques no valor de R$ 245 mil com a Vip Factoring", disse. "Há dois inquéritos instaurados. As investigações estão calcadas em provas materiais e sem dúvida foram encontradas movimentações do comitê do PSDB", acrescentou. "Há um laudo que comprova depósito de R$ 240 mil."

Segundo o juiz, o ex-governador Dante de Oliveira (PSDB) e deputados de vários partidos estariam envolvidos no esquema. Antero afirmou que os cheques eram pré-datados, usados no pagamento de um jantar para arrecadar fundos para a campanha. Ele exibiu a lista dos doadores e os valores de cada cheque, trocados com deságio na factoring. "O juiz está aqui não porque é um expert e quer contribuir com a CPI, mas porque o PT tem nele um de seus instrumentos no Judiciário", atacou.

Solicitado a assinar o termo de responsabilidade, que obriga os depoentes a dizer a verdade, Sebastião Silva recusou, alegando que estava ali como convidado e não como convocado.

"DELÚBIO"

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), e Antero disseram que o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), os teria procurado para dizer que o depoimento de Sebastião Silva não era bom para o partido. "Queriam transformar o Antero no Delúbio, mas esse é um jogo, uma farsa, que nós não aceitamos", contou Virgílio.

A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), reagiu. "As investigações levaram à possibilidade de financiamento de campanhas do PSDB em 2002 e 2004", disse ela. "Aquilo que se imaginava de um jeito, acabou se dando de outro. Foi o dia de o PSDB mostrar destempero e descontrole na frente de todos nós."

O juiz se valeu várias vezes do parecer, não votado, do relator da CPI do Banestado, deputado José Mentor (PT-SP), para acusar Antero de proteger o Comendador Arcanjo, que está preso no Uruguai. O senador reagiu mostrando 18 medidas que teria adotado como presidente da CPI contra Arcanjo.

Antero mostrou cópia de livro patrocinado pela Caixa Econômica Federal sobre fórum presidido pelo juiz. Segundo ele, nas 48 páginas há 13 fotos de Sebastião. Ele apresentou ainda parte de processo em que o juiz é acusado por improbidade administrativa, por designar como peritos em processos de desapropriação seu irmão, o sócio do irmão e um primo.