Título: Fundos de pensão abasteceram mensalão, suspeitam deputados
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Nacional, p. A5

Corretoras teriam repassado dinheiro a pelo menos dez parlamentares

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios investiga a atuação de três corretoras sob suspeita de, à margem do valerioduto, terem repassado dinheiro sujo para pelo menos dez deputados ainda não denunciados. Essa vertente do mensalão era alimentada por fundos de pensão e a existência da nova lista de parlamentares foi revelada ontem pelo Estado.

Uma das corretoras investigadas, a Laeta, teria recebido, por exemplo, R$ 150 milhões de origem ainda não identificada. As outras duas corretoras que estão na mira da CPI são a Quantia e a Novinvest - as três recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar evitar o acesso a dados protegidos por sigilo bancário.

A maior dificuldade das apurações está na qualidade dos dados fornecidos à comissão pelos fundos de pensão. "Os dados estão incompletos", observou um integrante da CPI. A comissão deve apresentar levantamento em que demonstra, claramente, que os períodos de pagamento de mensalão pelo valerioduto, feito pelos bancos Santos, Rural e BMG, coincidem com os momentos em que alguns fundos de pensão acabaram realizando lucros abaixo até mesmo da operação mais conservadora do mercado.

O levantamento completo com os nomes dos deputados que teriam recebido dinheiro deverá ficar pronto até terça-feira, segundo informou um integrante da CPI. O primeiro nome já checado pela comissão é de um deputado do PP, cujo assessor teria recebido dinheiro considerado irregular de uma corretora.

SIGILO

Tanto a corretora quanto a lista de parlamentares e de assessores envolvidos estão sendo mantidos sob sigilo absoluto por integrantes da CPI. Na nova lista aparecem nomes de deputados que já estiveram na condição de suspeitos anterior mente, quando um ex-assessor do PP procurou a cúpula da CPI para denunciar como funcionava o esquema do pagamento do mensalão dentro do partido.

O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), sub-relator dos fundos de pensão, disse que não comentará dados que ainda estão em investigação e sob sigilo rigoroso.

O presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), e o relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR), estão acompanhando de perto as novas investigações.

A checagem dos montantes com os referidos beneficiários está sendo feita pela Ernest & Young, auditoria contratada pela comissão parlamentar de inquérito.