Título: Hora extra já é rotina para 77%
Autor: Renata Veríssimo , Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Economia & Negócios, p. B9

CUT mostra que maioria excede jornada de 44 horas de trabalho

A maior parte dos brasileiros trabalha mais que a jornada de 44 horas semanais fixada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Segundo pesquisa divulgada ontem pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), 77% dos 3 mil entrevistados fazem hora extra, 60% deles para completar a renda.

Do total de entrevistados, 45% afirmaram que o tempo a mais no serviço é essencial para aumentar a renda e 14,6% opinaram que é importante para a compra de bens. O levantamento ouviu pessoas dos ramos de transporte, químico, vestuário, metalúrgico e de comércio e serviços.

"É preciso humanizar o mundo do trabalho e no Brasil essa é uma questão difícil, pois as empresas exigem a hora extra e o trabalhador precisa dela para ter salário maior, mesmo com cansaço, desgaste e menos tempo com a família", disse João Antonio Felício, presidente nacional da CUT.

A central pretende incluir o tema entre as principais bandeiras de luta deste ano, assim como a redução da jornada de trabalho. Segundo Felício, a hora extra pode aumentar o poder de compra de algumas pessoas, mais tira o emprego de outras. "A hora extra é uma exigência absurda, à qual as pessoas se adaptam", afirmou.

Conforme Patrícia Toledo, economista da subseção do Dieese, a redução das horas extras e das jornadas é um mecanismo de distribuição de renda. "Acreditamos que as duas coisas juntas resultariam na criação de 1,8 milhão de empregos", disse.

Pela lei, o trabalhador só pode fazer duas horas extras por dia, sem limite mensal. "Uma saída seria melhorar o salário mínimo, criar bonificações e ter um acordo patronal nacional, na mesma época, para que o trabalhador não precise trabalhar tanto para ter uma boa renda", pregou Felício. Outro destaque feito por Patrícia é que 43% dos trabalhadores afirmam sofrer de algum distúrbio por causa do excesso de trabalho, como estresse e depressão.

Para Valdeci Tomaz, que trabalha em uma indústria de calçados de Franca (SP), a hora extra faz muita diferença. "Ganho R$ 420 por mês, mas com hora extra chega a R$ 500 ou R$ 600." Ele gasta o dinheiro extra com lazer, roupas e calçados. "Não acho bom diminuir a hora extra, só se aumentasse o salário."