Título: TV digital japonesa é mais cara para consumidor
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Economia & Negócios, p. B8

CPqD compara preços dos conversores de sinais dos três padrões em estudo pelo governo

O padrão japonês de TV digital é o mais caro para o consumidor, considerando o valor do conversor de sinais digitais em analógicos, que é uma caixinha que permitirá ao telespectador continuar usando o mesmo televisor. Essa é a constatação do relatório da Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (CPqD), contratada pelo governo para coordenar estudos técnicos de universidades e centros de pesquisa sobre a implantação da TV digital no País.

O texto do CPqD, divulgado ontem pela Teletime, mostra que essa caixinha poderá custar neste ano R$ 761,00 se a opção for pelo modelo japonês. O segundo mais caro é o modelo americano, cujo conversor custaria R$ 715,00. O mais barato é o europeu: R$ 662,00.

Essa avaliação considera um conversor com amplas funções, como alta definição de imagens e interatividade, que permitirá usar o aparelho em funções próprias da internet, como acesso a e-mails. O europeu também é o mais barato nas versões mais simples do conversor.

O relatório, de 141 páginas, não sugere a adoção de um padrão. A conclusão do estudo, praticamente repete as diretrizes traçadas no decreto presidencial de 2003, que instituiu o sistema brasileiro de TV digital. O CPqD chama a atenção para a necessidade de levar em conta as perspectivas de mercado e de escala de produção, "o que influencia diretamente no investimento necessário ao setor produtivo e no preço final ao consumidor".

A informação de que o relatório havia sido vazado para a imprensa não agradou ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, sobretudo porque os estudos apontam algumas desvantagens do padrão japonês, que tem a simpatia de emissoras de TV e do próprio ministro.

Em entrevista coletiva antes da publicação do estudo, ele disse que relatório 'não foi feito para agradar ou desagradar a ninguém", mas deixou claro que tem opiniões divergentes das conclusões da Fundação. "Ninguém vai mexer uma linha, mas podemos discordar."

Costa havia prometido para ontem a divulgação dos relatórios dos institutos de pesquisa que fundamentaram as conclusões do CPqD, mas disse que estava aguardando a autorização deles porque os estudos contêm sigilo industrial. A assessoria da Presidência da República informou ontem que não havia previsão de data para a divulgação dos estudos da Fundação.

INCOERÊNCIAS

Costa chegou a dizer que o relatório do CPqD apresentava "incoerências" e "imprecisões". Ele citou o exemplo do conversor de sinais que estaria no relatório, segundo ele, a um preço de US$ 400, enquanto há promessa de "uma empresa" de fazer esse conversor por US$ 43.

O estudo aponta ainda as prioridades do sistema brasileiro de TV digital. No que se refere à inclusão social, o baixo custo é o item de maior peso, com nota 9, seguido da robustez (garantia de que o sinal chegará ao televisor), com nota 6, e da interatividade, com nota 4. O CPqD propõe que em seis anos toda a transmissão de TV seja digital.

A implantação começaria pelas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde as cinco maiores emissoras comerciais (Globo, Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV) e a maior emissora pública (Radiobrás) teriam seis meses de prazo para iniciar a transmissão digital. Nas demais capitais, o prazo é de um ano.

A estimativa é que o gasto do consumidor chegue a R$ 14 bilhões em 15 anos, considerando um valor médio de R$ 400 por conversor de sinais. A previsão da Fundação é de, após 15 anos, 81% dos domicílios terem conversores, considerando um valor de R$ 200 por aparelho.

O CPqD foi contratado em 2004 e foram gastos nas pesquisas R$ 56 milhões, com recursos do Fundo de Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel).