Título: De 2003 para cá, dois reajustes. Mas cresceram os descontos nos salários
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Economia & Negócios, p. B5

O presidente Lula terminará o mandato com uma carga tributária maior do que quando tomou posse. Mesmo depois de duas correções na tabela do Imposto de Renda de Pessoas Físicas (IRPF), a parcela do salário que vai para o governo (incluindo INSS) subiu até 3 pontos porcentuais para trabalhadores de classe média - como os metalúrgicos do ABC - que tiveram os rendimentos reajustados pela inflação nos últimos anos. Até salários que ficaram congelados nesse período sofrem hoje uma tributação maior do que em janeiro de 2003.

"Todos os segmentos da sociedade sentiram o peso da mão do governo no seu bolso", afirma o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM).

Desde o início do governo, a tabela do Imposto de Renda teve duas correções, uma de 10% e outra de 8%, mas a inflação acumulada já passa dos 24,3% e deve chegar ao final de 2006 em 30%. Quando o salário é reajustado pela inflação e a tabela do IRPF não acompanha, o assalariado perde uma fatia maior da sua renda para o Leão.

Mesmo trabalhadores que tiveram o salário congelado por algum motivo acabaram sofrendo uma maior tributação. Isso porque a contribuição previdenciária de quem ganha mais do que o teto do INSS (R$ 2.668,15) subiu de R$ 171,00 em janeiro de 2003 para R$ 293,50 em maio de 2005 e deve chegar a R$ 306,70 em maio deste ano, quando os benefícios da Previdência forem corrigidos.

O aumento de tributação decorrente da Previdência entre 2003 e 2006 é de R$ 135,70, enquanto o alívio oferecido pelas correções da tabela do IRPF chega no máximo a R$ 122,21 para quem teve o salário congelado. No caso de trabalhadores que tiveram reajustes salariais de acordo com a inflação, o desconto do IRPF na fonte também aumentou.

Quem ganhava R$ 5 mil em janeiro de 2003, por exemplo, tinha descontado R$ 1.047,30 por mês, ou 20,9% da renda, para IRPF e INSS. Hoje, esse trabalhador ganha R$ 6.214,93 e paga R$ 1.394,14, ou 22,4%, em tributos. E o aumento da tributação é maior para trabalhadores que ganham menos.

Para um trabalhador que ganhava R$ 2.500 em janeiro de 2003 e hoje ganha R$ 3.107,47, a mordida tributária subiu de 14,4% para 17,4%. Para um salário de R$ 10 mil, o acréscimo de tributação foi de apenas 0,8%.