Título: Empresários temem recuo mais forte do dólar
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Fiesp, Ciesp e Abimaq criticaram duramente a isenção do investimento externo em títulos

Representantes do setor produtivo criticaram duramente a decisão do governo de oferecer incentivos fiscais para investidores estrangeiros comprarem títulos públicos. Para eles, a desoneração do Imposto de Renda e da CPMF nessas operações levará à desvalorização ainda maior do dólar ante o real, prejudicando as exportações e o nível de atividade no País.

"Foi mais uma paulada nas empresas brasileiras", diz Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

Tabacof considera válido o objetivo de alongar o perfil da dívida pública para permitir a queda mais acentuada dos juros, mas pondera que isso pode demorar de um a dois anos. "Até lá, vamos continuar a perder competitividade e espaço tanto no mercado externo quanto no doméstico".

Para ele, o governo parece estar "anestesiado com o efeito brilhante dos superávits da balança comercial, que tendem a declinar, e com o ingresso maciço de dólares em investimentos especulativos".

Na avaliação de Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o dólar poderá cair para abaixo de R$ 2 em três meses caso a mudança de perfil da dívida demore a se refletir na queda dos juros. "Seria um desastre, com queda nas exportações, desemprego e falência de indústrias. Enquanto isso, os investidores estrangeiros vão estar muito felizes".

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, é mais pessimista . "Essa excelente medida simplesmente vai derrubar o dólar para R$ 1,8 nos próximos 60 dias", diz, com ironia.

Segundo ele, ao estimular ainda mais a entrada de capital especulativo, o governo vai tornar inviável as atividades da indústria e da agricultura, que têm sido os motores do crescimento. Mello argumenta que hoje tudo é dolarizado e não adianta alguém pensar que vai produzir aqui e fazer a conta em reais sem converter em dólar porque os produtos de concorrentes, especialmente da China, custam muito menos.

"Como se não bastasse a valorização acentuada do real, o governo baixa uma medida destinada a a valorizar ainda mais a nossa moeda. Estamos precisando é de medidas no sentido oposto. Isso mostra a subserviência do governo brasileiro à entrada de capitais especulativos estrangeiros no País".

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimo), Domingos Savio Rigoni, lembra que as exportações do setor vêm caindo por causa do câmbio desfavorável, depois de terem praticamente dobrado entre 2002 e 2004. No ano passado, a expectativa era crescer no mínimo 25% ante o período anterior, mas a taxa foi de apenas 5%.Para 2006, a previsão é de queda nas vendas externas do setor.