Título: Isenção causa euforia no mercado
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

MP que desonera investimento externo faz o preço do dólar chegar ao nível mais baixo desde março de 2001

O mercado reagiu com entusiasmo à medida provisória (MP 281) que isenta de imposto os investimentos estrangeiros em títulos públicos. O dólar caiu 0,98%, para R$ 2,116, a menor cotação desde 20 de março de 2001. O risco país ficou no nível mais baixo da história, em 226 pontos. A Bovespa fechou em alta de 2,73%.

A euforia abriu espaço até para especulações sobre a elevação na nota de crédito do Brasil por parte das agências de classificação de risco e uma nova emissão de títulos da dívida externa.

O mercado já esperava o anúncio da MP e, por isso, o dólar vinha caindo nos últimos dias, já que os analistas acreditam que a medida levará a um aumento na entrada de capital estrangeiro, valorizando o real. Mas o texto da MP veio melhor que o esperado.

"Havia dúvidas sobre a abrangência da medida, mas ela foi até mais ampla do que achávamos", diz Paulo Pereira Miguel, economista da Quest Investimentos. A MP não confirmou o receio de que a isenção só valeria para investimentos em títulos com prazo acima de quatro anos. Ao contrário, não há carência e não há delimitação de prazos de títulos.

Os analistas acham que a projeção do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, de que a MP deve trazer mais US$ 4 bilhões em investimentos estrangeiros para os títulos públicos neste ano é conservadora. "Vai se abrir um novo universo de investidores para o Brasil", diz Miguel.

Para analistas, o real vai continuar se valorizando, mas não por causa do aumento de investimento estrangeiro em títulos. "Certamente, o Banco Central não vai deixar o mercado inundado de dólares. Vai enxugar esses recursos que vão entrar para compra de títulos e, talvez, usá-los para recompra de dívida externa", diz Alexandre Maia, sócio e economista da GAP Asset Management. Ele acredita que "O dólar vai continuar caindo por causa das questões estruturais e tem tudo para chegar a R$ 2,00."

Para o economista, o dólar está com tendência estrutural de queda por causa do ótimo desempenho da balança comercial, da redução da dívida externa, do alto nível das reservas internacionais e do risco do País, que está caindo para 200 pontos.

A medida deve acelerar o alongamento do perfil da dívida pública. Com maior demanda por títulos da dívida, o governo poderá exigir prazos maiores e pagar taxas menores. "Vamos sair dessa dívida de curtíssimo prazo - imagine vender papéis atrelados ao IPCA com vencimento em 2030".