Título: Sete empresas já têm status melhor que o do Brasil
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Na semana passada, o Brasil comemorou a promoção que recebeu da agência de classificação de risco Standard & Poor's. Depois de muito esforço para reduzir a dívida externa e pôr as contas em ordem, o País teve sua nota elevada. Mas o Brasil ainda está a dois degraus do tão cobiçado grau de investimento. Enquanto isso, sete empresas brasileiras já chegaram lá. Elas têm uma reputação melhor que o próprio Brasil no exterior e pagam menos para obter empréstimos. Como é que AmBev, Companhia Vale do Rio Doce, Votorantim Celulose e Papel (VCP), Votorantim Participações, Aracruz, Petrobrás e Embraer conseguiram ganhar a classificação grau de investimento?

Segundo Milena Zaniboni, analista da Standard & Poor's, as empresas que conseguem alcançar o grau de investimento costumam ter um perfil financeiro bastante conservador, pouca dívida, estrutura de custos baixa e muitas têm um caráter francamente exportador. As empresas mais globalizadas, que têm muitos negócios com o exterior, ADRs (ações negociadas lá fora), também têm vantagens. "Elas têm mais incentivos para pagar suas dívidas."

"Somos muito conservadores no endividamento, nosso custo é baixo e exportamos 50% de nossa produção - a elevação da nota foi um reconhecimento de nossas políticas", comemora Valdir Roque, diretor de Finanças da Votorantim Celulose e Papel (VCP), que teve seu rating elevado para grau de investimento no dia 10 de fevereiro deste ano, pela S&P.

A Companhia Vale do Rio Doce ganhou a classificação grau de investimento da agência Moody's em julho e da Standard & Poor's em outubro. A empresa já tirou proveito da promoção. Em janeiro deste ano, a Vale fez uma emissão de bônus de US$ 1 bilhão, com vencimento em 10 anos, a juros de 6,25% ao ano - o mais baixo custo obtido por um emissor brasileiro. De forma geral, a Vale conseguiu uma redução de 3 pontos porcentuais nos juros pagos, comparando com uma captação de perfil semelhante feita em 2003. Portanto, a empresa economizou US$ 30 milhões em juros por ano só nesse empréstimo.

A AmBev foi a pioneira - promovida a grau de investimento pela Standard & Poor's em dezembro de 2004. Desde então, não fez nenhuma grande emissão no exterior. Mas, da próxima vez em que for captar dinheiro lá fora, a AmBev pagará 2 pontos porcentuais menos de juros, segundo estimativa de Marcio Kawassaki, analista da Fator Corretora.

Um passo fundamental para a AmBev se tornar grau de investimento foi o fato de que a empresa passou a ter grande parte de sua receita em moeda forte com a incorporação da Labatt, cervejaria no Canadá. "A AmBev tem uma fonte segura de receita no exterior, o que permite a ela honrar seus compromissos em moeda forte", diz Ricardo Carvalho, diretor da agência Fitch.

TETO SOBERANO

A Moody's foi a primeira agência a rever o conceito de teto soberano, em 2001. Até então, as empresas não podiam ter rating superior ao dos países onde estavam sediadas. Temia-se que, no caso de uma moratória, os países impedissem as empresas de honrar compromissos em moeda estrangeira. "Depois de observar os casos de calote em vários países, vimos que isso não era necessariamente verdade. Assim, hoje, analisamos caso a caso", diz Luiz Tess, diretor-geral da Moody's.