Título: US$ 7 tri só para empresas classe A
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Um universo de cerca de US$ 7 trilhões em investimentos está à disposição de um time seleto de sete empresas brasileiras: AmBev, Companhia Vale do Rio Doce, Votorantim Papel e Celulose, Votorantim Participações, Aracruz, Petrobrás e Embraer. Esse é o valor aproximado dos recursos administrados por fundos de pensão e seguradoras dos Estados Unidos que só podem investir em papéis com nota "grau de investimento".

Para o Brasil e a maior parte das empresas, que ainda não conseguiram a classificação, está disponível um volume de recursos bem menor, de US$ 1 trilhão, administrado pelos fundos que investem em mercados emergentes e em high yield (papéis de maior remuneração, mas mais arriscados), na estimativa de analistas.

A Petrobrás, que ganhou o status de investimento seguro em outubro do ano passado, da agência Moody's, prepara-se para tirar proveito desse universo de novos investidores em potencial. Segundo Almir Barbassa, diretor-financeiro da Petrobrás, a empresa não fará novas captações em breve porque está muito líquida. Mas pretende fazer uma troca de sua dívida para baixar os custos (juros). "Acho que tivemos uma redução de pelo menos 1,5 ponto porcentual no custo de captação desde a elevação de nossa nota."

Barbassa afirma que a mudança de status da Petrobrás, que agora tem acesso aos investimentos desses enormes fundos de pensão, será uma grande vantagem. "A Petrobrás tem projetos de investimentos na casa dos bilhões de dólares, por isso é ideal termos acesso a esses grandes investidores institucionais."

Normalmente, esses fundos conservadores não podem investir mais de 5% de suas carteiras em papéis abaixo do grau de investimento. Barbassa diz que as ADRs da Petrobrás (ações negociadas na Bolsa de Nova York) também foram muito beneficiadas por esse acesso a um grupo maior de investidores. "As ADRs da Petrobrás foram as mais negociadas da Bolsa de Nova York em fevereiro. Não estamos mais confinados aos fundos de emergentes."

A Votorantim Participações, que é grau de investimento desde novembro, já está fazendo road shows (apresentações para investidores) para seu novo público. "Antes, fazíamos as apresentações só para fundos de mercados emergentes e high yield (arriscados); agora, estamos fazendo road shows para fundos maiores", conta Luís Schiriak, diretor-financeiro da Votorantim Participações.

Segundo Schiriak, a empresa também quer aproveitar a "promoção" para trocar sua dívida. "Temos captações da época da turbulência eleitoral, de 2002, quando só era possível captar dinheiro lá fora usando como lastro (garantia) receita de exportações", conta. "Agora que somos grau de investimento, queremos trocar nossa dívida por papéis mais baratos, sem precisar de lastro."

Para a troca da dívida, a Votorantim Participações quer atrair fundos de pensão, seguradoras e grandes bancos. E quer fazer operações simples, sem garantias, a custos menores. "Lastro de exportação é para usar quando chove, não quando o céu está azul, como agora", brinca Schiriak.