Título: Por causa das ostras, seis meses de atraso
Autor: Lu Aiko Otta e Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

As obras emergenciais no Porto de Santos atrasaram quase meio ano por causa de uma controvérsia interestadual a respeito das ostras. O projeto era simples: fazer uma dragagem para permitir a chegada de navios de maior porte. Para isso, seria necessário remover o material depositado no fundo do porto - que, além de lodo e pedras, contém poluentes. Os órgãos ambientais exigiram que o nível de contaminação das águas fosse monitorado durante a execução da obra. Isso seria feito por 560 ostras "recrutadas" em Santa Catarina. Elas seriam colocadas nas águas do porto e periodicamente examinadas.

Quando tudo parecia acertado, veio a surpresa. Os órgãos de defesa ambiental catarinenses se recusaram a ceder as ostras. Foram necessários seis meses de negociação para que os moluscos fossem finalmente levados ao porto.

Esse é um exemplo de como as obras de infra-estrutura acabam enredadas em problemas inesperados. Há outros, conforme relata o diretor do Departamento de Programas de Transportes Aquaviários do Ministério dos Transportes, Paulo de Tarso Carneiro.

As obras de alargamento de uma avenida que cruza o Porto de Itajaí (SC) tiveram um pequeno, mas peculiar, contratempo. Para que a obra fosse executada, teria de ser demolida a casa onde funcionava o prostíbulo mais antigo da cidade. Os usuários do estabelecimento chegaram a fazer um protesto contra o projeto, mas a obra prosseguiu, e o prostíbulo foi desalojado.

Outra situação inesperada ocorreu no Porto de Vitória. Por causa da precariedade dos estudos geológicos de que dispunha o governo, as obras de aprofundamento do porto tiveram de parar quando foi encontrada uma pedra. Mas não era pedra. "Descobrimos que era uma ponta da serra que descia até o litoral", diz Carneiro.