Título: Tecidos cada vez mais inteligentes ajudam a barrar o avanço chinês
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2006, Economia & Negócios, p. B12

Ganhar fôlego para brigar por mais espaço no disputado mercado têxtil brasileiro será uma questão estratégica para as empresas que amanhã abrem a 54.ª edição da Feira Internacional de Tecelagem (Fenatec). Reestruturada no ano passado, quando saiu em busca de maior glamour e contou com a participação do diretor da SP Fashion Week, Paulo Borges, a Fenatec deste ano promete valorizar ainda mais o design brasileiro na área têxtil.

A contínua desvalorização do dólar frente ao real, que já tornou difícil a vida dos exportadores, está obrigando os fabricantes a investir mais no mercado nacional. Não é o único problema. As empresas brasileiras também temem que as confecções prefiram importar tecidos a comprar o produto no mercado nacional. Só em janeiro deste ano, as importações brasileiras da cadeia têxtil da China somaram US$ 40 milhões, 65% a mais que em janeiro de 2005, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Além da China há países como a Alemanha, Japão, Itália e França com tecidos de altíssima qualidade que podem ser atrativos para as confecções com o dólar baixo.

Daí a ênfase da feira e dos expositores em apresentar produtos inovadores e de alta tecnologia."Queremos mostrar ao público-alvo, formado por confeccionistas, atacadistas, lojistas, estilistas e profissionais do setor, as últimas tendências, para o verão de 2007, de moda, criação e tecnologia", diz a diretora de Estratégia de Negócios da Alcântara Machado, que organiza o evento, Roberta Dias.

A Invista, por exemplo, patrocinadora da Fenatec, aproveita o evento para lançar no mercado nacional o Lycra Xtra Life, com proteção especial para o cloro e durabilidade dez vezes maior que o elastano convencional. "É um lançamento mundial para um novo nicho de mercado, do público que freqüenta piscinas com regularidade. Ele é importante porque associa o nome da empresa à tecnologia", diz a gerente de Comunicação da Invista, Fabianne Pacini.

A Rhodia entra na Fenatec em parceria com 28 empresas homologadas no segmento de malharia e tecelagem para lançar produtos como a poliamida Allumé, com brilho de seda e outra com o toque do algodão.

O Grupo Rosset, um dos participantes da feira, vai mostrar um tecido denominado 3D, com uma camada de ar entre a pele e o meio ambiente, para roupas esportivas. O produto mantém o frescor no verão e preserva o calor do corpo no inverno e é um diferencial no mercado, explica o empresário Ivo Rosset, que está preocupadíssimo com as exportações. "A feira é estratégica para todos os lançamentos do grupo no mercado nacional", diz Rosset. "Não temos como reajustar preços e se nenhuma providência for tomada, estamos sujeitos a virar importadores da China."

Rosset sugere que o governo brasileiro discuta acordos bilaterais com os Estados Unidos para a obtenção de vantagens nas exportações, como já fizeram outros países da América Latina. "Temos de buscar uma saída urgente." Nos dois primeiros meses deste ano as exportações do grupo caíram 50% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A Charlex, que exporta de 20% a 25% da sua produção, e vende tecidos para grifes como Zara e Guess, entra na feira para avançar no mercado doméstico. A empresa vai investir em malhas estampadas e bordadas mais sofisticadas. "Reduzimos margens para manter as exportações e vamos fazer o possível para crescer no mercado interno com novidades de maior valor agregado", diz o representante da Charlex, Alberto Rachman. O problema, segundo ele, é que o consumo nacional está fraco e a tendência das empresas é crescer tirando a participação de mercado da concorrente.

As exportações da Sayoart, que representavam 20% da produção até 2004, baixaram para 13% e a empresa se voltou para o mercado interno. "Com o dólar baixo é a saída, e para isto vamos mostrar na Fenatec estamparia em Tactel para moda praia que é um produto inédito no mercado", diz o presidente da empresa, Alberto Georges Khoury.

Na a edição anterior da Fenatec, Roberta Dias marcou presença no mundo fashion com a exibição de um painel de tendências de moda, no ponto de vista do estilista Alexandre Herchcovitch. Este ano a feira vem com 14 designers selecionados e especializados em estamparias que vão vender seus trabalhos.

A feira, que vai de amanhã a quinta-feira, terá 59 expositores, 40% a mais que no ano passado, e deve receber cerca de 15 mil visitantes. A Fenatec, que foi realizada no ano passado no ITM Expo, voltou este ano ao Pavilhão Oeste do Anhembi. A mudança somada à reestruturação da feira atraiu um número maior de empresas e nomes que nas últimas edições não participaram do evento. Entre os expositores apenas dois são estrangeiros, um da Turquia e outro do Chile. Mas a diretora do evento diz que a China queria vir. "Eles pretendiam entrar num grupo de dez empresas num estande de 25 m2. Não estavam qualificados. Mas no ano que vem, quem sabe?"