Título: Novo programa para idosos sai antes da eleição
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2006, Nacional, p. A11

Além de turbinar a Farmácia Popular, o governo prepara outra ação de saúde feita sob medida para o período eleitoral. De olho na assistência - e no voto - de gerações mais velhas, o Ministério da Saúde prepara o lançamento do Programa Nacional do Idoso. A idéia vem sendo trabalhada desde a posse de Saraiva Felipe como ministro e deverá ser anunciada em breve.

Ancorado em 12 diretrizes, o projeto prevê ações que transcendem a área de saúde. "Elas trazem também propostas de ação social", define o secretário de Assistência à Saúde do ministério, José Gomes Temporão.

Entre as medidas estudadas, uma certamente virá acompanhada de grande polêmica: a internação domiciliar. Para os seus defensores, ela oferece o que há de mais moderno na medicina. Evita infecções hospitalares, favorece o contato do paciente com a família, adapta-se ao conceito de atendimento humanizado. "É um grande avanço", resume Temporão. "Certamente isso melhorará muito a qualidade de vida do paciente", reforça o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Marcus Pestana. "Precisamos nos adaptar, porque o Brasil está envelhecendo."

A convicção não é compartilhada por especialistas e por quem convive diariamente com as mazelas do atendimento público. Críticos temem que a medida seja o primeiro passo para a desassistência de pacientes que não têm como reclamar. Mais: alegam que o sistema pode funcionar muito bem na teoria, mas não em cidades onde estruturas de apoio ao atendimento são precárias, distantes e, sobretudo, em cidades marcadas pela violência.

Para esse grupo, fica difícil imaginar, por exemplo, qual a assistência que um paciente terá numa casa encravada numa favela. Os mais céticos vêem nesta ação um outro objetivo: desafogar as poucas vagas de hospitais e reduzir custos. O acompanhamento da qualidade de assistência também se dilui nesse sistema. Com paciente em casa, fica mais difícil saber se o atendimento é o ideal.

Temporão rebate as críticas dizendo que haverá critérios para a transferência dos doentes para casa. "Claro que, em locais onde não há nenhuma condição, isso não será feito", disse.