Título: Integração em sala será desafio
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2006, Vida&, p. A20

Os quatro professores que começam na próxima semana as aulas no presídio Madre Pelletier terão um desafio pouco comum: fazer a relação entre carcereiras e encarceradas abrir espaço para aquela entre colegas em sala de aula. Com presas e agentes penitenciários dividindo a mesma sala, eis a maior preocupação das coordenadoras do curso.

"Não há dúvida de que esse vai ser o maior desafio. Vamos tentar integrar, mas essa relação vai ter um limite e não há como forçar", diz Sinara Fajardo, uma das coordenadoras e professoras do curso. Os temores existem dos dois lados.

As presas acham que existe uma barreira natural e o excesso de amizade com os agentes pode levar à desconfiança das companheiras de cela. "A gente está na cadeia e eles são polícia. Não tem como esquecer isso", disse Júlia Barros, uma das alunas presas. "Não é discriminação, mas são eles que nos trancam. Se a gente tiver uma boa relação, pode ser taxada."

Do outro lado, a assistente penitenciária Marlusa Silveira Netto acha que a convivência não precisa ser difícil, mas será certamente uma experiência "diferente". "Lá dentro seremos colegas, mas da porta para fora é diferente, tem de ser. Não dá para misturar as coisas."

A tendência, mesmo, é que os dois grupos se mantenham separados a menos que os professores forcem a integração. Mesmo no vestibular, que os dois grupos já fizeram juntos, na mesma sala, foram presas de um lado, agentes do outro.

A provável relação complicada entre os dois grupos foi uma das razões para as críticas que a idéia recebeu. O Conselho Regional de Assistência Social invocou o que chama de "relações de poder" entre os agentes e as presas como um problema sem solução. "O agente penitenciário é responsável pela revista, guarda e vigilância, o que é incompatível com uma relação de igualdade entre colegas de sala de aula", diz o texto enviado pela presidente do Conselho, Léa Biasi, ao Estado.

Quando fizeram o vestibular, presas e agentes sabiam que teriam de conviver em sala de aula, o que pode diminuir a resistência esperada. Se a relação será mesmo incompatível, como diz o conselho, só a convivência dirá.