Título: Oposição ao projeto vem de assistentes sociais
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2006, Vida&, p. A20

A maior resistência à criação do curso de Serviço Social dentro do presídio feminino Madre Pelletier não veio do sistema prisional ou de preocupações com a segurança, como se poderia esperar, mas de profissionais da própria área de Serviço Social.

Depois do anúncio da criação do curso, o Conselho Regional de Assistência Social do Rio Grande do Sul (Cress-RS) foi inundado por telefonemas e e-mails com reclamações contra a idéia.

Há desde quem questione a qualidade até quem acuse as presas de não terem condições morais de trabalhar como assistentes sociais.

O Conselho convocou uma reunião, em dezembro passado, onde o assunto foi discutido. Não se chegou a uma conclusão e a polêmica continua. De qualquer modo, os conselhos não tem a atribuição de definir se um curso pode ou não ser aberto.

O Cress confirma que recebeu "manifestações de cunho discriminatório", mas, em carta ao Estado, a presidente do Conselho, Léa Biasi, apóia, mesmo que parcialmente, o curso.

"A possibilidade de presidiárias gaúchas terem acesso a cursos de nível superior constitui uma conquista. Assim o Conselho Regional de Serviço Social/RS não pode apoiar as manifestações contrárias em decorrência do fato de as alunas serem, atualmente, apenadas", diz o documento.

DURAS RESSALVAS

No entanto, o Cress, assim como o Conselho Federal de Serviço Social, questiona a capacidade de o curso ter qualidade. Há dúvidas sobre a real possibilidade de as presas fazerem estágios e terem acesso a pesquisas e outras experiências.

"A questão principal é como o projeto vai dar a essas alunas as experiências necessárias para uma educação de qualidade", pergunta a presidente do Conselho Federal, Elisabete Borgianini.

Sinara Fajardo, uma das coordenadoras do curso, afirma que o Centro Universitário Metodista - IPA, que vai oferecer o curso, analisou a questão.

"Sabemos que vamos ter de trabalhar essas limitações. Queremos trazer para dentro da penitenciária experiências universitárias, filmes, palestras, para complementar a formação", disse.

Quanto ao estágio, Sinara explica que todas as alunas aprovadas já estarão em regime semi-aberto ou na condicional quando chegar a época de aplicar o conhecimento adquirido no curso. "E já temos instituições que se ofereceram para recebê-las, sem preconceito", contou.