Título: 'Colaboração do BC é inflação baixa'
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Para Meirelles, manter os índices sob controle é a forma de o banco ajudar o crescimento econômico do Brasil

A contribuição que o Banco Central pode dar ao crescimento econômico é uma inflação sob controle e cabe à sociedade continuar se esforçando para o País se expandir ainda mais. A avaliação foi feita pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, ontem, no Rio, logo após um seminário em que destacou avanços macroeconômicos. Segundo ele, o Brasil está na rota do crescimento sustentado e as perspectivas da economia para 2006 são excelentes.

Para ele, o crescimento está aumentando, na média, comparado ao passado e aproxima-se do nível dos países com sucesso econômico. "Agora, é importante dizer que a colaboração que o BC pode dar para o crescimento é uma inflação baixa e estável, convergindo para as metas. E cabe, agora, ao restante da sociedade fazer um continuado esforço, que já está fazendo, para que isso tudo continue a melhorar e o Brasil possa cada vez mais avançar mais".

Meirelles fez a análise ao responder por quê, apesar de tantos indicadores favoráveis, a economia brasileira avança num nível próximo ao do governo anterior e abaixo da economia global. Segundo ele, em 2004, a expansão da economia foi maior que boa parte dos países emergentes e houve um ano de ajustes em 2005, "em que as expectativas são de que o patamar será inferior". Citou, também que "não existe país que cresça com inflação alta".

Levando em conta a projeção de crescimento da economia de 2,3% do Ipea para 2005 e de 3,4% para 2006, a média da expansão do PIB do governo Lula ficaria em 2,8% ao ano - pouco acima dos 2,3% dos dois mandatos do governo Fernando Henrique Cardoso.

Com base nas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplica (Ipea) Armando Castelar mostra que a economia mundial vai crescer 4,4% ao ano entre 2003 e 2006. "A participação do Brasil no mundo vem encolhendo", diz Castelar, que participou do seminário.

Ele concorda que o País vem crescendo mais do que antes, mas diz que o mundo "está avançando muito mais rápido". O FMI estima que os países em desenvolvimentos devem ter crescido 6,3% em 2005. "É certo que o BC tem uma importância pequena para o crescimento. O que ele faz é equilibrar demanda e oferta. E está fazendo isso direito. O problema é que as outras instituições também não estão fazendo."

Na apresentação, Meirelles disse que países que têm inflação na meta há alguns anos "fazem com que o crescimento médio tenda a crescer e a taxa média de juros tenda a cair". Meirelles evitou comentar o avanço da inflação neste ano. "Não fazemos comentários sobre dados pontuais. O banqueiro central por definição está sempre preocupado com tudo", disse, após evento promovido pela Câmara de Comércio Americana.

Ele explicou que o País está crescendo de forma balanceada, a economia está menos vulnerável e, por isso, mais resistente a choques internacionais. Citou que a relação entre as reservas líquidas do País e a dívida externa líquida, que era de 9,9% em 1999, chegou a 39,1% e está na trajetória para chegar a 50%, citando que tratava-se de medida de tendência e não de uma previsão".

Além disso, mostrou que a dívida externa líquida (pública mais privada), que tem sido um constrangimento ao crescimento sustentado do País, diminuiu, de US$ 80,3 bilhões de 2000 a setembro de 2005, para US$ 110 bilhões.

Meirelles apresentou quadros com a evolução de 18 indicadores, dentre eles, de inflação, emprego, absorção de bens de capital, além do setor externo. "Todos os medidores da resistência do País a choques estão aumentando." Ele destacou que neste ano deve haver um aumento da demanda doméstica. A avaliação é de que há uma tendência de aumento da massa salarial real, que já cresceu em 2005. E explicou que há relação entre a queda do risco país e mais investimentos. "É um indicador antecedente interessante. Caso a correlação se mantenha temos boa perspectiva de continuar com aumento de investimento."