Título: E-progressos
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2006, Economia & Negócios, p. B2

O medo da novidade e das fraudes eletrônicas vai aos poucos sendo passado para trás. O brasileiro está aderindo às compras pela Internet. Ele já entendeu que a pesquisa de preços é bem mais fácil, as entregas são cada vez mais rápidas e mais seguras e a conta chega depois.

O setor faturou R$ 2,5 bilhões em 2005, ou 43% mais do que em 2004. As estimativas da E-bit, empresa de pesquisa especializada no assunto, são de que neste ano as vendas alcançarão R$ 3,9 bilhões. Se isso se confirmar, o avanço será de 56% em relação ao ano passado.

Balanços recentes confirmam o progresso. As e-compras do último Natal cresceram 61% em comparação com as de 2004 que, por sua vez, já haviam saltado 39% em relação às do Natal anterior. O faturamento do setor no período compreendido entre os dias 15 de novembro e 23 de dezembro atingiu o recorde de R$ 458 milhões. Em 2004, as vendas haviam somado R$ 284 milhões.

Pode-se argumentar que essa modalidade de comércio ainda é nanica em relação ao mercado convencional. Mas o vigor do avanço em tão pouco tempo surpreende.

O padrão das compras pela internet também está mudando. Conforme dão conta os levantamentos mais recentes, CDs e DVDs continuam sendo os artigos mais procurados, com 21% de participação nas vendas - seguidos por livros, revistas e jornais, com 18%, e produtos eletrônicos (televisores, vídeos, aparelhos de som e de DVD, câmeras digitais, etc.), com 9%.

O destaque do Natal passado foi o empate, em 16%, das vendas de eletrônicos com a categoria livros e revistas. Isso mostra que o hábito de compras online vai mudando de patamar: o consumidor brasileiro passou a comprar produtos de valor bem mais elevado.

Mas o setor ainda não conseguiu se livrar de problemas que o acompanham desde seu lançamento, no fim da década de 90.

Um deles é sua baixa densidade. Apesar da ampliação da infra-estrutura digital (banda larga e uso de outros meios de conexão, como celulares e TV a cabo), apenas 30 milhões de brasileiros (16,7% da população) têm acesso à internet. Desses, só 4,8 milhões de internautas fazem compras pelo sistema. E aí entramos na questão cultural. A desconfiança em relação à segurança da transação ainda é grande.

A criação do CPF eletrônico, há dois anos, foi uma maneira de reduzir esse trauma. É um instrumento que tem validade jurídica para qualquer tipo de contrato assinado pela internet. O presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Câmara-e.net), Mauro Matos, conta que, em 2005, foram expedidos 500 mil CPFs eletrônicos. Ele espera que alcancem 2 milhões neste ano.

Cerca de 80% dos pagamentos por essas transações ainda são feitos por meio de cartão de crédito. Pedro Guasti, diretor-geral da E-bit, observa que algumas lojas online começam a oferecer outras formas de liquidação, como o boleto bancário ou o pagamento na entrega. "Iniciativas como essa colaboraram para o incremento de cerca de 1 milhão de novos consumidores no ano passado."

Para Guasti, o potencial do e-commerce é de 17 milhões de pessoas - os mesmos que acessam sua conta corrente bancária pela internet.

Ele destaca que o aumento da confiança do consumidor nas compras online pode ser medido pelas encomendas para o Natal que foram feitas na semana imediatamente anterior ao dia 25. "Aqueles que deixam as compras para a última hora não ficaram com medo de que o pedido não fosse entregue até o Natal", analisa Guasti.

Com um pouco mais de investimentos em segurança, esse medo pode acabar de vez.