Título: Governo indica que não vai se curvar às demandas do setor
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

Em meio à crise de desabastecimento de álcool, a área econômica do governo sinalizou ontem que não vai se curvar a todas as demandas do setor sucroalcooleiro. Ao contrário do que era esperado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) não avaliou em sua reunião mensal o voto que previa dobrar o limite individual para financiamento do custeio da safra de cana-de-açúcar.

O voto, encaminhado pelo Ministério da Agricultura, previa a elevação de R$ 100 mil para R$ 200 mil no limite. "O assunto estava acertado há pelo menos três semanas", informou uma fonte.

Nos últimos dias, o governo travou uma batalha com a iniciativa privada para evitar uma alta expressiva dos preços do álcool. Em janeiro, foi fechado um acordo e os usineiros comprometeram-se a manter o preço do álcool anidro em R$ 1,05 por litro nas usinas, antes dos impostos. Mas o trato foi quebrado e os preços chegaram a R$ 1,07 por litro na semana passada.

O governo adotou duas medidas para tentar impedir novas oscilações. A primeira foi reduzir de 25% para 20% a mistura de álcool anidro na gasolina, decisão que valerá por tempo indeterminado a partir de quarta-feira. A segunda, é reduzir de 20% para 0% a tarifa para importação de álcool.

O aumento do limite individual de financiamento permitiria a expansão da área cultivada. Com o aumento da área, seria possível atender à demanda crescente por açúcar e álcool no mercado interno e nas exportações, argumentam os fornecedores de cana-de-açúcar. De acordo com um técnico, o governo entende os argumentos, mas "quis dar uma dura no setor".

A expectativa do Ministério da Agricultura era que o CMN aprovasse o voto. Ao convidar para a entrevista coletiva do secretário de Política Agrícola, Ivan Wedekin, para detalhar os votos do CMN, a Assessoria de Imprensa do ministério informou que um dos itens aprovados pelo conselho era a alteração dos limites de financiamento bancário para a cana-de-açúcar. Mas, na entrevista, o secretário disse que o assunto "ainda não tinha sido concluído", o que provocou embaraço.