Título: Ano começa com maior desemprego
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Após a euforia de dezembro, o mercado de trabalho esfriou em janeiro. A dispensa dos empregados temporários contratados no final do ano elevou a taxa de desemprego no primeiro mês de 2006 (9,2%, ante 8,3% em dezembro). Houve queda de 1,2% no rendimento médio real dos trabalhadores ante o mês anterior.

A piora em relação a dezembro era esperada e, mesmo assim, o cenário é melhor do que o do início de 2005, quando a taxa de desemprego chegou a 10,2% nas seis principais regiões metropolitanas do País. Além disso, o rendimento foi 2,3% maior no primeiro mês deste ano ante igual mês de 2005.

O coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo, disse que a alta na taxa invariavelmente ocorre no primeiro mês do ano e, por isso, classificou os resultados divulgados ontem como "bons, favoráveis". Avaliação compartilhada por Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para quem os dados são "razoavelmente bons e o aumento da taxa era esperado".

Já para Guilherme Maia, da Tendências Consultoria, os números de janeiro "vieram fracos e confirmam a visão de que os resultados muito positivos de dezembro não sinalizavam o início de uma recuperação forte do mercado de trabalho".

Segundo Azeredo, o aumento da taxa ocorreu em conseqüência da demissão de trabalhadores temporários (que reduziu o número de ocupados em 1,1% ante dezembro) e do aumento da procura por uma vaga (que elevou o número das pessoas desocupadas, das sem trabalho e das que estão procurando emprego, em 10,8%).

Historicamente, a taxa de desemprego em janeiro é superior a de dezembro, porque segmentos como o comércio dispensam trabalhadores contratados para o final de ano. Além disso, os desempregados não buscam vagas no período de festas e voltam à ativa em janeiro, o que aumenta o número de desocupados.

"Janeiro, fevereiro e março são meses de alta na desocupação", observou Azeredo. Para ele, "agora é esperar quando virá o ponto de inflexão, quando a taxa começará a cair" - tradicionalmente, isso ocorre a partir de maio, com trajetória quase sempre decrescente até o final do ano, chegando ao menor patamar anual em dezembro.

Para Azeredo, os dados do rendimento e da formalidade são os únicos que trazem "um pouco de desconforto" nos resultados do mercado de trabalho em janeiro. Além da queda no rendimento ante dezembro, o número de ocupados com carteira assinada recuou 0,5%.

Ele observou que para ambos os indicadores é preciso esperar o resultado dos próximos meses para verificar se há uma tendência de queda ou apenas um recuo pontual. A informalidade também caiu em janeiro, com redução no número de trabalhadores sem carteira (2,3%) e por conta própria (como camelôs, 3,8%) ante dezembro. Outra boa notícia é que, na comparação com janeiro de 2005, o número de trabalhadores com carteira aumentou 6,4%.

Ao contrário de Azeredo, Marcelo de Ávila considera os dados da formalidade os destaques positivos da pesquisa, sobretudo com contabilidade de médio prazo. Segundo ele, nos últimos 12 meses, das 510 mil novas vagas criadas, 96,5% foram formais. "Houve aumento na qualidade do emprego."

Para Azeredo, a perspectiva é que o mercado de trabalho melhore em 2006. "Poderemos ter um 2006 de mais alívio", disse. Ele lembrou que o ano eleitoral facilita a criação de vagas.

"Podemos acreditar, com os dados de janeiro, que pelo fato de ser um ano eleitoral possa haver uma evolução no mercado de trabalho (queda na taxa de desemprego), ainda no primeiro semestre", disse Azeredo.

Para Guilherme Maia, os dados de janeiro "sinalizam recuperação gradual do mercado de trabalho em 2006, com destaque para a renda".

Marcelo de Ávila acredita que serão criadas mais vagas neste ano do que em 2005.