Título: Tesouro antecipa compra de títulos da dívida e acentua queda do risco
Autor: Rita Tavares
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2006, Economia & Negócios, p. B6

O Tesouro Nacional anunciou ontem a compra antecipada de todo o estoque de títulos da dívida externa brasileira renegociados em 1994, os bradies (ler mais na coluna de Celso Ming, na pág. B2). A preços atuais de mercado, o valor desses títulos é de US$ 6,64 bilhões, mas o desembolso do Tesouro será menor, de cerca de US$ 5 bilhões, porque parte desses papéis tinha US$ 1,5 bilhão em garantias que agora serão liberadas. A operação de recompra dos papéis será concluída em 15 de abril.

O Tesouro calcula que a recompra reduzirá o risco em 10 pontos, pois os bradies têm baixa liquidez no mercado internacional. O anúncio foi bem recebido e ontem à tarde o risco recuava 3,88%, chegando ao recorde de 223 pontos. A recompra confirma a disposição do Brasil de encurtar o período para a classificação de "grau de investimento" pelas agências de avaliação de risco.

Após essa operação, a dívida externa bruta pública deve cair para cerca de US$ 80 bilhões e a dívida líquida (dívida bruta menos reservas internacionais) cai para US$ 30 bilhões. Os recursos para a recompra sairão das reservas internacionais, que somavam cerca de US$ 57 bilhões em janeiro.

"A renegociação da dívida externa feita em 1994 se refere, na verdade, ao 'default' do Brasil anunciado em 1987. Assim, estamos virando a página dos anos 80. Muita gente não se lembra deles, mas eles existiram e deixaram marcas", afirmou o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, que, acompanhado do diretor de Política Monetária do Banco Central, Rodrigo Azevedo, e do secretário-adjunto do Tesouro, José Antonio Gragnani, anunciou a decisão do Brasil de antecipar a compra desses títulos externos com vencimentos previstos entre 2009 e 2024.

Levy explicou que a decisão de recomprar os bradies faz parte da estratégia de melhorar o perfil da dívida externa. "O bom desempenho econômico, associado à elevada liquidez internacional, fez com que o Tesouro aproveitasse para antecipar o pagamento desses títulos." Com a recompra, o Brasil vai economizar US$ 345 milhões em despesa de juros a valor presente líquido. O valor nominal supera US$ 600 milhões. Já o prazo médio da dívida externa não terá uma queda expressiva.

Ao lado da queda do risco, Levy comemorou o valor de negociação dos títulos externos brasileiros. Atualmente, esses papéis têm valor melhor do que os da Turquia e estão apenas 50 a 60 pontos acima dos títulos do México, país já classificado como "grau de investimento".