Título: Crédito explica 80% dos ganhos, diz BB
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2006, Economia & Negócios, p. B10

Os bancos atribuem o desempenho espetacular obtido no ano passado principalmente à expansão da carteira de crédito. O vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores do Banco do Brasil, Aldo Luiz Mendes, disse que 80% dos resultados dos bancos se devem ao aumento do volume de crédito e só 20% decorrem dos juros altos.

A edição de ontem do Estado mostrou que os cinco maiores bancos em ativos (Bradesco, Unibanco, Itaú, Banco do Brasil e Santander/Banespa) obtiveram lucro recorde nos três anos do governo Lula e embolsaram 28,4% a mais do que nos oito anos da administração Fernando Henrique Cardoso, segundo estudo da Economática.

Ontem foi a vez de mais um banco mostrar recorde. A Nossa Caixa anunciou um lucro líquido de R$ 765,6 milhões em 2005, alta de 113,4% em relação a 2004 e o melhor desempenho da história do banco.

O BB, por exemplo, fechou 2005 com lucro líquido de R$ 4,15 bilhões, 37,4% maior em relação ao obtido no ano anterior. De acordo com Mendes, a expansão se deve ao crescimento de 15,8% na receita de prestação de serviços e à devolução de ganhos de correção de impostos, uma receita extra, explica.

Ele observa que a taxa de crescimento do lucro da instituição foi menor do que a obtida por outros bancos privados, como, por exemplo, o Bradesco que chegou a ampliar os lucros em 80%. Mendes alegou que o BB não comprou carteira de crédito ou fechou parceria com o comércio varejista e que assim sua taxa de crescimento foi menor. Em sua análise, essas operações fechadas ao longo do ano pela maioria dos bancos privados trouxeram para dentro do sistema financeiro um massa de operações de crédito que estava pulverizada entre as financeiras. "Essa massa de operações de crédito estava fora do balanços dos bancos."

Mendes acredita que os resultados dos bancos devem continuar favoráveis este ano. SEgundo ele, quando o juro real recuar para nível inferior a 10% ao ano, a aplicação dos recursos em títulos do setor privado devem se tornar mais interessante em relação a títulos públicos.

TRANSFERÊNCIA

O comércio e a indústria consideram os lucros recordes dos bancos uma transferência de renda do setor produtivo para o financeiro. Isso resulta da atual política econômica que mantém os juros altos. "Essa transferência de renda atrapalha o desempenho do varejo e da produção", disse o diretor-executivo da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Antonio Carlos Borges. Para ele, o principal problema é o juro alto.

"Quando observo o ganho dos bancos, fico horrorizado", afirmou o diretor do Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Francini. Ele não poupou críticas aos bancos, que registraram lucros recordes ao mesmo tempo em que têm elevado as taxas de juros à pessoa física, apesar da queda da Selic. "Esse comportamento, de busca desenfreada pelo lucro sem levar em conta outras questões, como o emprego, o consumo, a produção, é normal entre os bancos."