Título: CNBB a Lula: 'Não use a máquina'
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2006, Nacional, p. A4

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Geraldo Majella Agnelo, alertou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que não use a máquina pública como instrumento de campanha eleitoral. Para d. Geraldo, é normal que um homem público inaugure obras ao fim do mandato, mas ele precisa tomar cuidado para que essas iniciativas não sirvam de palanque.

"A máquina pública não pode servir de campanha. Evidentemente, ou por coincidência ou por planejamento, não é no primeiro momento que se apresentam as obras. Quando se chega ao final, faz-se um balanço do que foi feito. Mas que isso não sirva para uma possível campanha eleitoral", afirmou d. Geraldo, referindo-se à possibilidade de Lula tentar a reeleição.

Ele fez o comentário logo depois da 20ª Reunião do Conselho Episcopal de Pastoral (Consep), realizada em Brasília para discutir o contexto político do País e o tema da campanha da fraternidade de 2006, intitulada Fraternidade e Pessoas com Deficiência. D. Geraldo informou que a campanha da fraternidade será lançada no dia 1º de março, na sede da CNBB.

Segundo o presidente da CNBB, o País já vive um clima eleitoral, por causa do prazo de desincompatibilização para os políticos que ocupam cargos públicos e querem disputar a eleição deste ano. Eles têm até 31 de março para deixar os cargos. Na tentativa de mostrar que o alerta ao presidente não pode ser encarado como uma crítica, o secretário-geral da CNBB, d. Odilo Pedro Scherer, disse que é difícil dissociar a figura do presidente da República do candidato. Por isso, ele avalia que não se deve impedir Lula de inaugurar obras de seu governo.

ORIENTAÇÃO

Preocupados com o momento político, os bispos disseram que a CNBB vai produzir uma cartilha orientando os fiéis para que não votem em políticos corruptos. Segundo d. Geraldo, a cartilha deve alertar o eleitorado para a necessidade de rejeitar também os candidatos que tenham praticado caixa 2. Para o presidente da CNBB, os fiéis devem estudar o passado dos políticos. "Será uma cartilha com subsídios para que as pessoas reflitam sobre a nova eleição e analisem os critérios para avaliação dos candidatos", disse.

D. Geraldo disse que o momento é de reflexão, por causa das denúncias de corrupção feitas pelas CPIs, mas insistiu na necessidade de a população ir às urnas e não se abster ou votar nulo. "O voto é muito importante (...) Se estamos numa democracia, desejamos que eles (os candidatos) tenham competência e probidade", argumentou.

Durante a reunião do Consep, os bispos também criticaram o trabalho dos parlamentares durante o período da convocação extraordinária do Congresso. "Nós esperávamos que houvesse um aproveitamento maior na convocação extraordinária. Não havia necessidade", reclamou d. Geraldo.