Título: Demora joga contra Serra e a favor de Alckmin
Autor: Carlos Marchi e Cristiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2006, Nacional, p. A7

O prefeito José Serra não foi indicado candidato a presidente porque hesitou em responder à direção do partido que aceitava sê-lo sem a garantia prévia de uma unidade partidária e do apoio do governador Geraldo Alckmin. Ele ouviu do triunvirato que coordena a escolha que seria o candidato se dissesse "sim". Os problemas com Alckmin se acomodariam depois.

Provavelmente vacinado pelos tropeços da candidatura em 2002, Serra ainda hesita em se assumir candidato. Mas o prazo para a decisão começa a se esgotar, junto com a paciência do triunvirato, da direção do partido, do aliado PFL e, provavelmente, do eleitorado tucano, embora todos estejam acostumados ao calvário de decisões demoradas.

O principal argumento da direção nacional do PSDB para entregar a candidatura a Serra foi uma das pesquisas encomendadas pelo partido para orientar a escolha do candidato, que teve como público-alvo eleitores tucanos e pefelistas. A esses grupos foi indagado se preferiam Alckmin ou Serra. Nos dois eleitorados, o prefeito ganhou disparado.

Quando Alckmin percebeu que a decisão pendia para Serra, começou a emitir claros sinais de que não aceitaria a indicação do prefeito sem brigar, o que assustou e constrangeu o prefeito. Pediu uma "ampla consulta" a outras instâncias partidárias e começou a criar constrangimentos à livre movimentação do triunvirato que coordenava a escolha.

Serra ouviu das instâncias do partido que orientavam a definição que a sua decisão deveria prescindir da exigência prévia de uma "unidade partidária", já que Alckmin resistiria. E que ele deveria fazer a sua opção correndo mais riscos do que imaginara inicialmente - depois, todos prometiam se engajar na assepsia das feridas e na recomposição da unidade rachada. Mas o prefeito seguiu hesitando.

CANSAÇO

A estratégia de Alckmin pode vencer pelo cansaço. Ontem, setores do PFL simpáticos à candidatura Serra já avaliavam, nos bastidores, que se esvai o timing para o prefeito assumir a candidatura. No Congresso, alguns tucanos declaram-se surpresos com o que rotulam de "jogo pesado" do governador que, no juízo deles, tem criado sucessivos constrangimentos que Serra não soube ou não pôde absorver.

Diante desse cenário, alguns dirigentes pefelistas já avaliam que a cúpula do PSDB não terá mais como tirar a candidatura de Alckmin e o melhor é apressar a definição para logo depois do carnaval. À medida que Alckmin avança, setores do PSDB começam a trabalhar a hipótese do desembarque de Serra da corrida sucessória.