Título: Guerra religiosa deixa 130 mortos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2006, Internacional, p. A14

Mais de 130 pessoas foram mortas em vários ataques e confrontos entre xiitas e sunitas desde o atentado que na quarta-feira destruiu, na cidade de Samara, a Mesquita Dourada, o quarto mais importante santuário xiita no Iraque. Desde o começo da ocupação, o Iraque teve três dias com mais de 128 mortos. Em todos eles, as mortes foram decorrência de atentados perpetrados por insurgentes. Nos últimos dois dias, a violência tem sido de outra natureza. Desde quarta-feira, o que se viu foram grupos sunitas e xiitas se atacando mutuamente.

Em represália ao ataque de Samara, milícias e manifestantes xiitas atacaram dezenas de mesquitas sunitas. Tentando evitar que os conflitos levem a uma guerra civil, o governo provisório decretou toque de recolher hoje até as 16 horas em Bagdá e nas vizinhas Províncias de Diyala, Babilônia e Salaheddin. Também suspendeu as folgas de policiais e soldados.

Sexta-feira é o dia de descanso muçulmano. Como as mesquitas recebem milhares de fiéis, as autoridades temem que clérigos radicais insuflem os ânimos. "Ninguém deve sair", disse uma fonte no governo. "A polícia vai prender qualquer um que sair, mesmo que seja para rezar." Os EUA responsabilizaram a rede Al-Qaeda no Iraque pelo atentado. Esse grupo extremista sunita, ligado à rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden, combate as forças de ocupação e o governo provisório iraquiano, de maioria xiita e curda.

Ontem, a crise política se agravou com a decisão dos principais grupos sunitas representados no Parlamento de se retirar das negociações para formação de um governo de união nacional. O Partido Islâmico Iraquiano, o maior dos sunitas, e a Associação dos Clérigos Sunitas, a máxima autoridade religiosa dessa comunidade, culparam os clérigos xiitas pelo agravamento do conflito, pelo fato de o grão-aiatolá Ali al-Sistani ter pedido aos fiéis que se manifestassem pacificamente contra a destruição da mesquita.

Nas regiões que estarão sob toque de recolher, o clima é quase de guerra civil porque a população é mista, formada por árabes xiita e sunitas. As áreas de maioria curda e xiita estão mais calmas. Uma exceção é a xiita Basra, no sul, a segunda maior cidade do país. Pelo menos 25 pessoas morreram em Basra.

A maioria dos mortos no país é sunita. No entanto, o pior ataque foi desfechado por militantes islâmicos contra xiitas que voltavam de manifestação pacífica em Samara. Eles foram retirados dos carros e executados, em Diyala. Em Samara, vários homens armados seqüestraram na quarta-feira e depois mataram a correspondente da TV Al-Arabiya, de Dubai, Atwar Bahjat, e dois membros de sua equipe, o cinegrafista, Khakled al-Falahi, e o operador de áudio Adnan Khairallah. Todos eram iraquianos.