Título: Violência deixa 146 mortos na Nigéria
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2006, Internacional, p. A15

Jovens cristãos queimaram ontem os corpos de vários muçulmanos nas ruas de Onitsha, no sudeste da Nigéria, a cidade mais atingida pelos distúrbios religiosos que provocaram a morte de pelo menos 146 pessoas em cinco dias em várias partes do país.

A violência em Onitsha irrompeu depois dos protestos do fim de semana contra a publicação de caricaturas do profeta Maomé. Pelo menos 28 pessoas, a maioria cristãs, foram mortas nos protestos na cidade de Maiduguri e outras 25 na cidade de Bauchi, ambas no norte da Nigéria. As caricaturas, inicialmente publicadas em setembro na Dinamarca, foram reproduzidas recentemente por vários jornais europeus em nome da liberdade de expressão provocando a ira no mundo islâmico.

Um multidão, que queria se vingar pela morte de cristãos no norte, atacou os muçulmanos com machetes, destruíram suas casa e incendiaram mesquitas em dois dias de violência em Onitsha, onde pelo menos 93 pessoas morreram entre terça e quarta-feira.

A minoria muçulmana da cidade, cerca de 5 mil pessoas, fugiu, deixando seus parentes mortos para trás. Muitos muçulmanos abrigaram-se no quartel do Exército. Vários corpos foram levados na noite de quarta-feira pelas forças de segurança, mas os que permaneceram nas ruas foram queimados pela população enfurecida. Pelo menos nove cadáveres carbonizados jaziam nas ruas sujas, enquanto as pessoas passavam apressadas, tapando o nariz com as mãos ou lenços.

Milhares de nigerianos morreram na violência sectária desde 2000, quando os Estados do norte do país, de maioria muçulmana, adotaram a lei islâmica (sharia). A Nigéria, um país de 140 milhões de habitantes, é dividida entre as duas religiões, com uma maioria cristã no sul.

A incerteza sobre o futuro político vem agravando as rivalidades regionais, étnicas e religiosas na nação mais povoada da África. A Nigéria realizará eleições gerais em 2007 e muitos temem que o presidente Olusegun Obasanjo e alguns governadores tentem permanecer no poder, após oito anos de governo. A Constituição impede Obasanjo de buscar um terceiro mandato, mas ele diz que poderia mudar a Carta.

A situação também tem sido agravada por militantes do sul, uma região rica em petróleo, que há três meses lançaram uma campanha de ataques contra a indústria petrolífera, provocando o corte das exportações e o aumento dos preços internacionais.