Título: Navio com 1.400 a bordo naufraga
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2006, Internacional, p. A26

Mais de mil pessoas podem ter morrido na tragédia do Al-Salam, que ia da Arábia Saudita para o Egito

CAIRO

O navio egípcio Al-Salam Boccaccio 98 naufragou ontem de madrugada no Mar Vermelho quando ia com mais de 1.400 pessoas de Duba, na costa saudita, para a cidade portuária de Safaga, ao sul do Cairo. Até o início da madrugada de hoje (horário local), barcos e helicópteros que participavam dos esforços de resgate haviam recolhido 185 corpos e apenas 314 sobreviventes. As chances de encontrar pessoas com vida diminuíam por causa da baixa temperatura na região.

"Não há expectativa de encontrar muitos sobreviventes mais porque já se passou muito tempo desde o naufrágio", disse o diretor da Autoridade Portuária do Mar Vermelho, do Egito, general Mahfouz Taha. A companhia proprietária do navio, a Al-Salam Maritime Transport, informou ter resgatado entre 300 e 400 pessoas com suas embarcações enviadas para o local, mas esses dados não foram confirmados.

O número de pessoas a bordo também não estava claro. A empresa informou que eram 1.272 passageiros e 99 tripulantes. O porta-voz da presidência do Egito, Suleiman Awad, afirmou que estavam a bordo 1400 passageiros - dos quais 1.200 egípcios e 99, sauditas - e 98 tripulantes. Mais de cem pessoas eram de outras nacionalidades, incluindo sírios, sudaneses e palestinos. Os passageiros eram na grande maioria egípcios que trabalhavam na Arábia Saudita ou tinham prolongado sua estada nesse país depois da peregrinação a Meca, no mês passado. O navio também transportava 22 automóveis e 21 caminhões.

Não está claro ainda o motivo do naufrágio. O navio não tinha botes salva-vidas suficientes para todos e as embarcações egípcias enviadas para o socorro chegaram ao local apenas dez horas depois, o que agravou a tragédia. O ministro dos Transportes do Egito, Lutfy Mansour, disse que houve "um pequeno incêndio" antes do navio afundar e que investigadores ainda não sabem se ele teve relação com o afundamento. Outra causa provável seria o mau tempo na região. Havia fortes ventos e ondas muito altas quando o Al-Salam zarpou de Duba, às 19 horas de quinta-feira. Deveria chegar às 3 horas a Safaga, situada a 180 quilômetros. Por volta das 22 horas, o navio desapareceu dos radares e não emitiu sinal de S O S para as autoridades portuárias. Apenas se sabe que o comandante entrou em contato com o ferryboat Saint Catherine avisando que o Al-Salam corria risco de afundar. Esse tipo de navio pode naufragar rapidamente se a água entra por uma das portas por onde entram os veículos. Isso aconteceu com barcos semelhantes na Bélgica, em 1987, e na Estônia, em 1994.

O presidente do Egito, Hosni Mubarak, ordenou uma investigação urgente e indicou que houve falhas no salvamento. "A rapidez do naufrágio e o fato de que não havia a bordo um número suficiente de botes salva-vidas confirmam que houve um problema", disse o porta-voz de Mubarak, Awad, à TV egípcia.Um fato grave foi a recusa inicial das autoridades portuárias em aceitar a oferta de ajuda da Marinha britânica, que tinha o navio de guerra HMS Bulwark no Mar Vermelho, e dos EUA, que ofereceram um avião de patrulha costeira. Depois, elas voltaram atrás e o navio e o avião se dirigiram para a área do naufrágio