Título: Brasil apóia oferta russa de fornecer combustível
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2006, Internacional, p. A24

O Brasil costura com a Rússia o apoio à idéia de Moscou de o Irã enriquecer urânio em território russo, como uma solução para a crise entre o governo de Teerã e a comunidade internacional. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, reuniu-se com o ministro chanceler russo, Serguei Lavrov, esta semana em Londres e diplomatas do Brasil ainda terão encontros nas próximas semanas em Moscou. "Queremos uma saída diplomática e os russos podem ser o fiel da balança", afirmou Antonio Patriota, subsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty.

O governo brasileiro recebeu no segundo semestre de 2005 um emissário iraniano pedindo o apoio do Brasil no assunto, apurou o Estado.

Não é o primeiro contato dos iranianos com o governo brasileiro. Em 2003, logo no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Amorim foi procurado por um ministro iraniano em Genebra. A reunião foi mantida em sigilo. O iraniano pedia duas coisas: que o Brasil considerasse a posição de Teerã sobre o tema nuclear e não atacasse o Irã no que se refere aos direitos humanos. Mas o Itamaraty deixa claro que há meses não se reúne com iranianos.

O governo acredita que o plano russo pode ser uma solução diplomática para a crise. Ontem, Lavrov declarou que seu país poderia fornecer combustível nuclear ao governo do Irã se Teerã admitisse a possibilidade de usar o território russo para enriquecer urânio. O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, questiona a capacidade dos russos de garantir o fornecimento. Mas os governos europeus e os EUA também vêem com bons olhos a proposta russa.

O Brasil quer também evitar uma politização maior do debate sobre a crise envolvendo o programa nuclear iraniano. Apesar de aceitar que o tema seja levado ao Conselho de Segurança da ONU, o Itamaraty não quer que o Irã seja pressionado e ameaçado com sanções.