Título: EUA expulsam diplomata venezuelana
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2006, Internacional, p. A19

Americanos dão o troco a Chávez, que na véspera expulsou adido naval do país, e crise nas relações se aprofunda

CARACAS

Em represália à expulsão de seu adido naval pela Venezuela, o Departamento de Estado americano anunciou ontem a expulsão de uma conselheira da embaixada venezuelana em Washington. "Informamos ao governo da Venezuela a decisão de declarar persona non grata a diplomata Jeny Figueredo Frías", anunciou o porta-voz do departamento, Sean McCormack. "Esta medida é uma resposta à decisão de ontem (quinta-feira) do governo venezuelano de expulsar o adido naval dos EUA em Caracas, comandante John Correa", acrescentou o porta-voz, admitindo que o governo americano não tinha nenhuma acusação específica contra Jeny Figueredo. "Ela foi a escolhida porque acreditamos que era a pessoa mais apropriada para isso (a expulsão)."

"Não gostaríamos de entrar neste jogo de olho-por-olho com o governo da Venezuela, mas foram eles que começaram e decidimos responder", afirmou McCormack.

"Já esperávamos uma reação de reciprocidade, mas a expulsão de Jeny Figueredo é apenas uma vingança política, pois seu cargo não corresponde à do adido militar", declarou Mari Pili Hernández, vice-ministra venezuelana de Relações Exteriores.

A expulsão é o mais recente episódio da rápida e profunda deterioração das relações diplomáticas entre os dois países. Na véspera, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, justificou a expulsão do adido naval John Correa com a acusação de que ele promovia atividades de espionagem contra o governo. Segundo Chávez, Correa manteve encontros com pelo menos 20 oficiais de baixa patente da Marinha venezuelana para obter segredos militares e cooptar esses oficiais para minar o apoio ao governo nas Forças Armadas. Os militares venezuelanos acusados estão sendo processados por um tribunal militar.

No mesmo dia, reagindo à expulsão de Correa, o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, comparou Chávez a Adolf Hitler. "Trata-se de alguém eleito legitimamente, co mo Hitler foi eleito legitimamente, antes de consolidar-se no poder", disse Rumsfeld.

A resposta veio pelo vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel. "É uma desfaçatez inaceitável, como falar de corda em casa de enforcado", disse Rangel. "Se há algum presidente que se possa comparar a Hitler, esse é (George W.) Bush, que invade países e massacra povos para levar adiante sua política criminosa." Rangel também qualificou Rumsfeld de "notório traficante de armas".

Na quarta-feira, o chefe dos serviços de inteligência dos EUA, John Negroponte, afirmou que a Venezuela era uma das principais preocupações de Washington no continente, por causa de sua aproximação com o regime cubano de Fidel Castro e de suas intervenções em processos eleitorais de outros países da região.

Chávez - que ontem estava em Cuba para receber um prêmio do Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco) - lançou na quinta-feira a campanha para reeleger-se em dezembro. No mesmo discurso pela TV no qual anunciou a expulsão do adido dos EUA, anunciou um aumento de 15% no salário mínimo, o fim do imposto sobre depósitos bancários e a extensão de benefícios previdenciários para idosos que não tenham completado o tempo mínimo de contribuição.

A Venezuela exporta para os EUA a quase totalidade dos 1,5 milhão de barris de petróleo que produz diariamente - o que corresponde a 13% das importações petrolíferas americanas. Por seu lado, os EUA são o principal parceiro comercial venezuelano. Quase 30% dos produtos importados pela Venezuela são americanos.