Título: Mércio diz que está firme no cargo
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2006, Nacional, p. A14

Apesar da saída de Possuelo e de 5 diretores, presidente da Funai garante ter apoio na Funai

O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, afirmou que, apesar da demissão de cinco membros do Conselho Indigenista, ainda tem apoio do órgão para continuar no cargo. "O conselho é composto de 14 pessoas e ficou claro que tenho o apoio de nove membros", disse ele.

Mércio desembarca hoje no Brasil depois de quase duas semanas no exterior. Em conversa com o Estado antes de deixar a Europa, reconheceu que terá de enfrentar a crise que vive a entidade. Os problemas começaram quando ele afirmou em entrevista que os índios no Brasil têm terras demais. Mércio declarou que a informação era um mal-entendido, mas isso não permitiu o fim da crise.

Sidney Possuelo, sertanista e coordenador da Área de Índios Isolados da Funai, criticou as declarações de Mércio e acabou sendo demitido. "Ele veio com pedras na mão. Se tivesse me ligado, eu teria esclarecido o assunto", defendeu-se o presidente da Funai.

Agora, foi a vez de cinco antropólogos membros do Conselho Indigenista pedirem demissão e emitirem um comunicado sugerindo a substituição do presidente da Funai. Na nota ainda criticaram as "concepções arcaicas" da direção da entidade. Os antropólogos demissionários são Bruna Franchetto, Gilberto Azanha, Isa Maria Pacheco, José Augusto Laranjeira Sampaio e Rubem Ferreira Thomas de Almeida.

"Lamento que isso tenha ocorrido. Da mesma forma que ocorreu com Possuelo, se esses conselheiros tivessem me ligado e pedido um esclarecimento, eu teria explicado tudo. Outros conselheiros pegaram o telefone e me ligaram. Porque eles não podiam fazer o mesmo?", argumentou Mércio.

O presidente da Funai ainda acusou os cinco antropólogos de terem tentado convencer os demais membros do conselho a também pedirem demissão. "Eles não conseguiram convencer os outros, apesar de terem tentado", disse. Mércio explicou que o mandato dos conselheiros já havia terminado, embora alguns deles pudessem ter sido reconduzidos.

"Eles saíram porque já estavam de saída", atacou.

Ele afirmou ainda que não consegue entender o motivo das declarações contra ele no Brasil. "Espero que a pressão acabe, porque estou trabalhando, desenvolvendo nossa política e isso estou fazendo pelos índios."

NEGOCIAÇÕES

Mércio esteve em Londres para uma conferência sobre políticas indianistas e, desde o fim de semana passado, participou em Genebra das negociações da ONU sobre a declaração dos direitos dos povos indígenas. Depois de 11 anos de debates, os países não conseguiram se entender sobre temas como a autodeterminação dos povos e o uso dos recursos naturais pelos grupos indígenas.

Apesar da falta de consenso, principalmente por causa da oposição de Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Inglaterra, a ONU apresentará nas próximas semanas uma proposta de declaração que poderá ser aprovada ou recusada pelos governos. O Brasil promete apoiar a visão dos indígenas.