Título: Quércia e Rigotto tentam isolar ala governista
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2006, Nacional, p. A6

No ato de apoio ao governador em São Paulo, oposicionistas insistem em que PMDB não vai abrir mão de lançar candidato próprio à Presidência

O PMDB paulista oficializou ontem apoio ao governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, na disputa pela candidatura à Presidência da República e, com isso, mandou um recado para a ala governista do partido, defensora de fechar uma coligação com o PT. "Não há a menor possibilidade de o PMDB não ter candidatura própria."

O alerta foi dado pelo presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), que esteve presente no encontro, mas avisou que não pode declarar seu apoio a nenhum dos pré-candidatos. "Eu apoio uma tese, a da candidatura própria, e vou com ela até as prévias", desconversou Temer.

Além de Rigotto, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho pretende disputar a Presidência pelo PMDB.

Para Temer, a tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de formar uma aliança com o PMDB é legítima, mas não deve extrapolar a boa relação entre os partidos. "A vontade do presidente Lula, de querer fazer uma aliança com o PMDB, é legítima. Ilegítimo é procurar governadores e lideranças do PMDB, sabendo que o partido, em convenção nacional, já se decidiu por candidatura própria", disse.

RESOLUÇÃO

Anteontem, aliás, Lula teve um encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim - que tem sido cortejado pelo PT como possível vice numa chapa encabeçada por Lula. Jobim já foi deputado pelo PMDB e é provável que se filie de novo ao partido em março, ao deixar o STF.

Ovacionado no evento, que teve a participação de mais de 300 peemedebistas, Rigotto disse que, se Jobim quiser ser candidato, terá de passar pelo partido. "É um excelente quadro para ser presidente da República. Agora, para ser candidato, o ministro Jobim tem de participar da prévia, não existe unção de candidatos no PMDB", alertou.

O presidente nacional do PMDB lembrou ainda uma resolução aprovada pela Executiva que prevê que, se o vencedor das prévias desistir da candidatura, automaticamente passa a valer a candidatura do segundo colocado. Mostrando que a direção do PMDB vai jogar duro para impedir uma aproximação com o PT nas eleições, Temer deu um ultimato para os ministros peemedebistas que estão no governo Lula.

Segundo ele, os ministros devem entregar os cargos e se afastar do governo quando for definida a candidatura à Presidência. "Logo que terminem as prévias, o PMDB vai reunir sua Executiva e, possivelmente, o Conselho Político para exigir que os ministros saiam do governo", afirmou o deputado. "Não tem sentido ter candidato próprio já escolhido com ministros do PMDB no governo."

Rigotto acrescentou que só serão discutidas alianças em que o PMDB apareça como cabeça-de-chapa. O ex-governador Orestes Quércia, anfitrião no evento, ironizou: "O PT pode até querer o PMDB como vice, mas o PMDB não vai querer o PT como vice."

Para o governador gaúcho, o PMDB pode encabeçar a formação de uma aliança de centro-esquerda, para o segundo turno, que envolva PDT e PPS. "Eles já disseram que se eu conseguir vencer as prévias poderemos ter uma conversa", contou.

CAMPANHA

Um candidato sem rejeição e, portanto, com alto potencial de crescimento, e que pode aglutinar um partido dividido. Assim se definiu o governador gaúcho, que pregou a unidade partidária sempre se declarando a terceira via destas eleições.

"O PMDB não pode ficar a reboque de outros projetos. O partido tem que ter seu projeto nacional", discursou no evento, de que participaram os governadores Jarbas Vasconcelos, de Pernambuco, e Luiz Henrique da Silveira, de Santa Catarina.

"Aqueles que acham que poderão, porque tenho 3% das intenções de voto, retirar meu nome estão totalmente equivocados", avisou Rigotto. "Fazem especulações de que podem me tirar se eu ganhar a prévia. Esperem quando eu vencer a prévia, o que vai acontecer com o PMDB no Brasil."

Ele disse que começou nesta semana uma peregrinação pelo País. "Vou usar os finais de semana para viajar e no fim de fevereiro devo me licenciar do cargo por 20 dias para me dedicar em tempo integral à minha pré-campanha", explicou.

O governador gaúcho disse acreditar que a pré-campanha no PMDB servirá como um termômetro para o partido sentir a temperatura das eleições.