Título: Ministro cobra avanços dos europeus na OMC
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2006, Economia & Negócios, p. B14

Palocci critica tentativa de desviar do tema 'subsídios'

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acusou os europeus de estarem tentando desviar a atenção dos problemas centrais nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, Brasil, Índia e China se opuseram à idéia da União Européia de concentrar a atenção nas negociações comerciais em pontos como a melhoria da infra-estrutura para os países pobres. Palocci insistiu na organização de uma cúpula de chefes de governo para desbloquear a negociação, mas não convenceu a todos.

O debate ocorreu durante a reunião do G-8, grupo das maiores economias do mundo e que convidaram os países emergentes para debater a questão comercial.

Contrariamente ao que previa Palocci, o G-8 sequer incluiu em seu comunicado final a tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em convocar uma cúpula. "A Europa ainda não tem uma posição fechada sobre o tema", afirmou Thierry Breton, ministro das Finanças da França. "Temos muitas barreiras a enfrentar. Os países ricos continuam com posições muito conservadoras", admitiu Palocci.

Os governos têm até dezembro para fechar um acordo na OMC. Mas na reunião ministerial da entidade em Hong Kong, em dezembro, os países tiveram grandes dificuldades para estabelecer quais seriam os níveis de cortes de tarifas e subsídios agrícolas. Para muitos, os europeus foram os principais responsáveis pela falta de avanço. Ontem, a Alemanha deixou claro que só pode existir um acordo sobre agricultura quando os países emergentes abrirem seus mercados para produtos industriais.

A UE ainda insiste que os países ricos devem dar uma ajuda à infra-estrutura dos países mais pobres, o que facilitaria as exportações dessas economias. A proposta foi apoiada pela França, país que mais se opõe a abertura de seu mercado. "É insuficiente, o que dissemos é que esperamos que os países ricos não fiquem nessa pauta de apoio à infra-estrutura. é uma pauta parcial e não responde ao centro da questão, que são os subsídios e tarifas agrícolas. Para nós, interessa entrar no centro da questão, e não tocar no ponto só de forma tangencial", atacou Palocci.

Ele não acredita que a rodada sofra um retrocesso. "A questão é saber se a negociação vai gerar pouco avanço ou se será ambiciosa." Em Hong Kong, ficou decidido que os subsídios à exportação de produtos agrícolas devem terminar em 2013. "É pouco, mas é um ganho."

A Grã-Bretanha propôs que os chefes de governo promovam uma cúpula para tentar desbloquear o processo, mas que não teve apoio de todos. Palocci admite que esse encontro pode ocorrer antes de abril, data que a OMC estabeleceu para fechar os entendimentos de questões que não conseguiram ser resolvidas em Hong Kong. "A questão é saber quando devemos ter essa reunião para poder de fato gerar um resultado positivo", disse Palocci.

Mas esse tema sequer fez parte do comunicado oficial do encontro. A declaração do G-8 se limitou a reconhecer que mais trabalho será necessário para concluir a negociação e que se tenha em mente as necessidades dos países em desenvolvimento. O G-8 pede que todos os países concordem em um pacote com resultados em agricultura, produtos industriais e serviços financeiros.