Título: Exército em guerra com o tráfico
Autor: Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Metrópole, p. C1

O Morro da Providência, no centro do Rio, foi o cenário do pior confronto entre traficantes e o Exército desde o início da ocupação de favelas cariocas, há oito dias, na Operação Asfixia. Houve tiroteios na noite de quinta-feira e na manhã de ontem. Um bebê, uma mulher e um homem foram feridos por estilhaços de granada. Revoltados, moradores chegaram a agredir os soldados e tentar tomar suas armas. Quatro pessoas foram presas. À noite, houve mais trocas de tiros e uma criança foi baleada no braço. De acordo com o Exército, o ferimento foi causado por um tiro de pistola, arma que não está sendo empregada pelas tropas.

Na zona sul, outro conflito assustou moradores pela manhã. Cerca de 50 policiais militares trocaram tiros por duas horas com traficantes da Favela Santo Amaro, no Catete. A operação serviu para checar informação de que o armamento roubado do Exército estaria no morro. Pelo menos quatro granadas foram lançadas contra os PMs, mas ninguém se feriu.

Segundo investigação do Ministério Público Militar, o roubo de dez fuzis e uma pistola do Estabelecimento Central de Transportes (ECT) - que motivou a ocupação nas favelas - pode ter sido praticado por um grupo de 20 pessoas. Quatro foram identificadas: três ex-militares e um civil, parente de um deles. Mandados de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça Militar.

Na Providência, o telhado de zinco da quadra esportiva usada de base pelos militares ficou cheia de furos das balas. De manhã, houve confrontos às 6 e às 9 horas. Divaneide dos Santos foi ferida superficialmente nas pernas e nos braços com estilhaços de granada. Sua filha, Luísa, apenas 26 dias, machucou-se no rosto, no braço e nas pernas. Um homem chamado Ricardo foi atingido por todo o corpo. Todos foram logo liberados do hospital. "O pior foi o susto", disse Divaneide. O Comando Militar do Leste (CML) negou que os militares ou mesmo os criminosos tenham usado granadas.

Ainda de manhã, os soldados chegaram a uma casa usada pelo tráfico e lá apreenderam 10 quilos de cocaína, uma farda do Exército e um radiotransmissor - quatro rapazes foram presos na casa. Logo em seguida, 40 moradores foram à base dos militares no morro e começaram um protesto. Alguns tentaram tirar os carregadores dos fuzis dos soldados. "Tivemos de usar a força física", afirmou o coronel Pedro Conrado, comandante da ocupação. O CML não tem dúvida de que esses moradores estão agindo por ordem dos traficantes. À tarde, outro grupo de manifestantes foi até a sede do CML protestar.

Moradores contaram que tiveram as casas invadidas pelos militares, que entraram nas residências para subir até as lajes, de onde teriam melhor visibilidade. Os bloqueios nas estradas, iniciados anteontem, já foram desmobilizados. Nada foi encontrado.