Título: IPCA cai e meta de inflação fica fácil
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

O susto causado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em janeiro não se repetiu em fevereiro. A taxa apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) recuou para 0,41%, ante 0,59% no mês anterior. Na avaliação de analistas, será fácil para o governo cumprir a meta de inflação deste ano, de 4,5%, ao contrário de anos anteriores.

Para a coordenadora do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, os dados da inflação acumulada em 12 meses comprovam a tendência de variações menores. O IPCA acumulado em 12 meses até fevereiro, de 5,51%, é o mais baixo em períodos semelhantes desde maio de 2004 (5,15%). "Essa é uma evidência da convergência para taxas menores", disse Eulina. No primeiro bimestre do ano, a taxa acumulou alta de 1,02%.

Marcela Prada, da Tendências Consultoria, vê um horizonte benéfico para a inflação nos próximos meses. A conjuntura que exigiu a elevação dos juros entre setembro de 2004 e igual mês de 2005, para conter os preços, está mudando para outra mais favorável ao IPCA: dólar baixo, tarifas com reajustes menores e nível de atividade econômica que não deve provocar pressões de demanda.

Com a inflação sob controle, está aberto o caminho para cortes mais ousados nos juros básicos (Selic). O economista Flávio Serrano, da Corretora Ágora Sênior, prevê que os cortes deverão prosseguir e passar de 0,75 ponto porcentual para 1 ponto já na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), no fim de abril. Assim, a Selic cairá dos atuais 16,5% ao ano para 15,5%.

O IPCA de feve reiro mostrou deflação em grupos importantes nas despesas das famílias, como alimentos e bebidas (0,28%), vestuário (0,54%) e artigos de residência (0,39%. Destaque para aparelhos de TV, som e informática, com queda de 1,32%. No lado oposto, as mensalidades escolares, com alta de 5,38%, responderam, isoladamente, pela metade (0,21 ponto) da inflação do mês.

Para as famílias de renda mais baixa, de um a oito salários mínimos, desde 2004 a inflação (medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, INPC) vem subindo, em termos acumulados, menos que o IPCA - que abrange a população com renda de até 40 salários mínimos. No primeiro bimestre deste ano, o INPC subiu 0,62%, ante 1% do IPCA. Em 2005, o IPCA foi de 5,69% e o INPC, de 5,05%. Em 2004, o IPCA ficou em 7,6% e INPC, em 6,13%.

Em fevereiro deste ano, segundo a coordenadora do IBGE, o INPC (0,23%) foi menor que o IPCA (0,41%) porque o orçamento das famílias de renda menor não sofre a influência do reajuste das mensalidades escolares, principal pressão sobre o IPCA no mês.