Título: Seis países tentam salvar Doha
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Economia & Negócios, p. B9

Os seis países considerados chaves para o sucesso da Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC) iniciaram ontem uma nova reunião para tentar superar o impasse admitindo que o encontro não deverá resultar em avanços decisivos. Além disso, indicaram que a data prevista para se chegar às bases amplas para um acordo (30 de abril) provavelmente será novamente adiada para junho ou julho.

"Não acredito que a expectativa para esse encontro seja a quebra definitiva do impasse", disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que se reunirá hoje com colegas da União Européia, Estados Unidos, Índia, Japão e Austrália. Ele demonstrou cautela com a possibilidade de um acordo até o final do próximo mês. "Toda vez que você abandona um prazo ou cronograma isso se torna uma profecia que se auto-realiza e, por isso, temos de trabalhar com a data limite." Para Amorim, o avanço crucial nas negociações deverá ocorrer em junho ou julho.

O comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, ressaltou que as diferenças entre as idéias dos países em desenvolvimento e as dos ricos ainda são grandes. "As negociações não estão bloqueadas, mas sua conclusão é complicada por uma grande variedade de interesses e o número de temas entrelaçados que estão sendo decididos."

Brasil e seus parceiros do G-20 pressionam os EUA para que reduzam seu apoio à agricultura e também exigem a redução das barreiras para seus produtos agrícolas na UE.

Os países ricos, por sua vez, reivindicam a queda dos impostos sobre importação de bens industriais e a abertura do setor de serviços nos países em desenvolvimento.

Numa palestra na London School of Economics, Amorim disse que a proposta de uma reunião de chefes de governo, apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apoiada pelo primeiro-ministro Tony Blair, será crucial para destravar as negociações. "Há dois caminhos para se negociar: o incremental, com uma melhora gradual de ofertas, e o político que gera uma solução definitiva. Já obtivemos o máximo possível com a negociação incremental e o Brasil não está satisfeito."

Sobre a viabilidade de um encontro de cúpula, o ministro ressaltou que a proposta "ainda não foi rejeitada" por nenhum país. A França, porém, já deus sinais que é contra. "Se outros não quiserem participar, vão ter de arcar com o peso dessa decisão." Segundo ele, a reunião poderia ser em abril ou maio, quando as bases do acordo poderiam ser firmadas.