Título: Bush tem a menor aprovação
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2006, Internacional, p. A21

Politicamente diminuído por uma taxa de aprovação de 37% - a mais baixa de seu mandato e próxima da de Richard Nixon no auge do escândalo Watergate -, o presidente George W. Bush admitiu ontem que tomou algumas "decisões impopulares" ao falar durante a reunião anual da Associação dos Jornais Americanos. Mas o presidente disse que a tomada de decisões difíceis é parte da sua função e as pesquisas que atestam rejeição às suas políticas pela maioria dos americanos não mudarão suas "crenças".

A declaração foi o reconhecimento de um momento particularmente negativo, em que os parlamentares republicanos começam a distanciar-se de Bush, temendo que sua impopularidade, agravada pelos fortes sinais de colapso de sua estratégia no Iraque, dêem o controle da Câmara dos Representantes aos democratas nas eleições legislativas de novembro. Ela veio um dia depois de Bush ter assistido à deserção maciça da bancada republicana, que, ignorando sua ameaça de veto, juntou-se aos democratas para impedir uma empresa do emirado árabe de Dubai, um dos mais próximos aliados dos EUA, a assumir as operações de terminais em seis grandes portos do Atlântico, depois de terem adquirido o controle da empresa inglesa que detinha os contratos de prestação desses serviços.

"Estou preocupado com a mensagem que isso dá aos nossos amigos e aliados ao redor do mundo, particularmente no Oriente Médio", disse Bush. "Para ganhar a guerra ao terror temos de fortalecer nossas amizades e nossa relações com os países árabes moderados."

Ele acrescentou que a rejeição da empresa estatal de Dubai, por suspeita de que seu controle acionário da empresas que operaria os portos tornaria os EUA mais vulneráveis a uma penetração da Al-Qaeda, atingiu um país - os Emirados Árabes Unidos - que é "um aliado comprometido com a guerra ao terror e um parceiro-chave para os nossos militares numa região crítica que, afora os EUA, prestam mais serviços às nossas Forças Armadas e aos nosso navios do que qualquer outro país".

Abandonado nos últimos dias também por vários intelectuais conservadores que apoiaram a invasão do Iraque, mas agora publicam colunas para explicar por que erraram, Bush e seu governo enfrentam a descrença quase completa dos americanos sobre a possibilidade de uma evolução positiva da situação iraquiana. Indagado ontem sobre o que planeja fazer se a guerra civil latente entre xiitas, sunitas e curdos poderia se degenerar num conflito aberto, ele disse que "o primeiro passo é fazer tudo o que pudermos para evitar que uma (guerra civil) aconteça". Mas a carnificina desencadeada pela destruição de um templo sagrado xiita no dia 22 faz com que quatro de cada cinco americanos ouvidos em enquetes digam hoje que a guerra civil é inevitável.

Cobrado pelo Senado a explicar, na quarta-feira, o que acontecerá como os mais de 130 mil soldados americanos no Iraque caso uma guerra entre as várias facções ponha a perder de vez o plano de se construir uma democracia estável no Iraque, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, disse que a responsabilidade principal de enfrentar a violência caberia às forças iraquianas treinadas pelos EUA.